CHORANDO PRO FLAMENGO: Seletividade e disputa política: por trás da fala de Leila Pereira sobre STJD
A tensão entre Palmeiras, Flamengo voltou a ganhar força nesta semana, quando Leila Pereira, presidente do clube paulista, deu uma declaração cobrando celeridade e equilíbrio no julgamento de atletas no STJD. A manifestação ocorreu nesta segunda-feira (10), e se tornou tema central nas discussões esportivas após ser repercutida em programas de TV e nas redes sociais. A dirigente questionou a diferença de tratamento entre casos recentes envolvendo jogadores, apontando suposta injustiça na condução processual. Até que ponto os fatos sustentam o discurso público da presidente palmeirense?
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A declaração de Leila surgiu em meio ao impasse envolvendo o atacante Bruno Henrique, denunciado pelo STJD e mantido em atividade graças ao efeito suspensivo. O discurso, construído como um alerta ao tribunal e à condução do Campeonato Brasileiro, reacendeu um embate que desde agosto se arrasta por decisões, adiamentos e novas interpretações jurídicas. No texto divulgado, a presidente afirmou que “o que está acontecendo não é justo”, citando o caso do volante Alan e reclamando da diferença de ritmo entre julgamentos. Para ela, a irregularidade temporal coloca o Palmeiras em desvantagem numa semana já marcada por desfalques da Data Fifa.
O ponto, porém, ganha outra camada quando se observa a cronologia completa. A denúncia de Bruno Henrique foi apresentada em 1º de agosto. O atleta foi julgado em primeira instância um mês e meio depois. A análise no Pleno, prevista inicialmente para a segunda-feira (10), acabou adiada para esta quinta-feira (13) após pedido de vista, um recurso comum na legislação desportiva. No mesmo período, três atletas do Palmeiras também aguardam julgamento: Gustavo Gómez, Piquerez e Vítor Roque. As denúncias foram registradas em outubro, mas nenhum dos casos sequer chegou à pauta da primeira instância.
Essa comparação revela o elemento que faltou no pronunciamento da presidente. Os processos envolvendo os jogadores palmeirenses estão parados há mais tempo que o de Bruno Henrique, embora tenham chegado ao tribunal depois. O zagueiro Gómez e o lateral Piquerez foram denunciados no começo de outubro; já estamos em novembro e não há data para o julgamento. Vítor Roque completou um mês esperando a marcação da audiência. Todos continuam atuando normalmente.
A análise dos números foi reforçada pelo jornalista Rodrigo Mattos. Ele lembrou que o STJD historicamente é lento, mesmo em casos mais simples. Citou ainda episódios recentes da Série A que aguardam dois meses ou mais apenas pela definição da primeira instância. Segundo Mattos, o problema extrapola Flamengo e Palmeiras: “O tempo de julgamento do STJD é muito demorado. Para casos simples, como o do Alan, deveria haver uma comissão disciplinar rápida que aplicasse a regra sem necessidade de recorrer ao pleno.” A sugestão escancara a falta de estrutura do sistema, onde processos complexos e rotineiros se misturam na mesma fila.
Enquanto o debate jurídico avança, a política esportiva grita mais alto. Dentro e fora do campo, o Palmeiras pressiona árbitros, comissões e agora o tribunal. A postura ecoa o comportamento de Abel Ferreira na linha lateral e expõe um jogo de influência visto com naturalidade no futebol brasileiro. Ao mesmo tempo, parte da imprensa reproduz a fala da presidente sem aprofundar o contraponto: se há cobrança por isonomia, por que não exigir o mesmo ritmo nos processos do clube paulista?
O histórico também ajuda a dimensionar o discurso seletivo. Em 2015, Dudu chegou a agredir um árbitro e, mesmo assim, atuou durante seis meses com efeito suspensivo. Quando o processo foi finalmente encerrado, a pena foi convertida e o atacante cumpriu cinco jogos. À época, não houve indignação semelhante de figuras que hoje se mostram tão vigilantes quanto ao caso de Bruno Henrique. A ausência de memória, quase sempre conveniente, reaparece nas discussões atuais.
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No centro dessa disputa está uma evidência incômoda: quando o jogador em questão decide partidas, a pressão aumenta. Bruno Henrique vive bom momento e voltou a marcar com frequência. Esse fator, por si só, amplia o interesse e a temperatura das críticas. O incômodo alviverde não nasce da defesa de princípios, mas da possibilidade real de impacto na tabela. Caso o atacante estivesse irregular tecnicamente, dificilmente a polêmica alcançaria esse volume.
Com o Brasileirão entrando na reta decisiva e a Libertadores chegando ao desfecho, qualquer detalhe parece alterar a percepção de justiça. O discurso sobre equilíbrio esbarra nas lacunas do próprio sistema jurídico esportivo, que opera lentamente e sem padronização. A fala de Leila, ainda que revestida de indignação, ignora processos internos do seu clube e reforça a impressão de que o alvo é o Flamengo, não o tribunal.
AUTOCRACATA! Leila Pereira quer poder absoluto no futebol e faz do Flamengo seu inimigo preferido
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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