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Coincidência? Flamengo tem treino interrompido por Autoridade de Dopagem comandada por palmeirense

Coincidência? Flamengo tem treino interrompido por Autoridade de Dopagem comandada por palmeirense

Na sexta-feira (17), o Flamengo foi surpreendido por uma visita inesperada da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) ao Ninho do Urubu. O episódio, ocorrido a dois dias do confronto decisivo com o Palmeiras pelo Campeonato Brasileiro, provocou desconforto interno e uma nota oficial do clube, que acusou a entidade de prejudicar a preparação da equipe e de ultrapassar limites técnicos e de privacidade.


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Segundo o comunicado rubro-negro, nove representantes da ABCD chegaram ao centro de treinamento sem aviso prévio, exigindo acompanhar presencialmente toda a atividade em campo. Três deles, de acordo com o texto, assistiram integralmente ao treino tático conduzido por Filipe Luís, em momentos habitualmente restritos à comissão técnica e aos jogadores. O clube alegou que a ação interrompeu o aquecimento, atrasou o início dos trabalhos e impediu exercícios de ativação física, o que teria comprometido a rotina planejada para a véspera do duelo com o rival paulista.

A irritação foi imediata. Internamente, o Flamengo argumenta que o elenco havia sido testado pela Conmebol na mesma semana, em um procedimento padrão envolvendo os quatro semifinalistas da Libertadores. “O clube reitera seu compromisso inabalável com o combate ao doping, mas entende que essas ações devem observar princípios de isonomia, planejamento e respeito à privacidade técnica”, registrou a nota.

Apurações posteriores reforçaram o tom de incômodo. O repórter Diogo Dantas, do O Globo, informou que cerca de dez funcionários da ABCD estiveram no Ninho, todos com coletes de “escolta”, acompanhando os jogadores dentro e fora de campo. A solicitação do Flamengo para que o acompanhamento ocorresse apenas após o treino não foi atendida. Segundo relatos, alguns atletas precisaram deixar o campo para realizar o exame. A lista de testados incluía oito titulares da última partida: Léo Pereira, Ortiz, Varela, Ayrton Lucas, Arrascaeta, Pulgar, Carrascal e Pedro.

O episódio ganhou novos contornos quando internautas e jornalistas notaram que a presidente da ABCD, Adriana Taboza de Oliveira, é torcedora declarada do Palmeiras. A informação, ainda que não configure irregularidade, levantou discussões sobre possíveis conflitos de interesse, especialmente diante do histórico recente de desentendimentos entre os dirigentes dos dois clubes, Leila Pereira e Luiz Eduardo Baptista, o Bap, em meio às disputas da Libra e da futura liga do futebol brasileiro.

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A suspeita de direcionamento se ampliou após o repórter Gabriel Orphão, do Paparazzo Rubro-Negro, publicar que o último teste surpresa noticiado no Palmeiras ocorreu há mais de um ano, em setembro de 2023, durante procedimento da Conmebol idêntico ao que o Flamengo realizou dias atrás. Segundo ele, o time carioca já passou por três ações semelhantes em 2024. Embora a ausência de registros públicos não prove ausência de fiscalização, a discrepância temporal alimentou a sensação de desequilíbrio.

O desconforto cresceu entre os jogadores. Felipe Luís, de acordo com o Venê Casagrande, teria ficado “revoltado” com a presença dos fiscais observando o treino tático. O lateral e outros atletas teriam expressado o incômodo ao diretor de futebol José Boto e à comissão técnica. O entendimento interno foi de que a preparação para o duelo com o Palmeiras foi prejudicada.

A tensão é potencializada pelo passado recente. Em 2023, a própria ABCD esteve no centro da polêmica que resultou na suspensão de Gabigol, acusado de dificultar o exame antidoping. O Flamengo, que sempre defendeu o jogador, apontou contradições nos depoimentos dos fiscais, alguns deles, mais tarde, repreendidos por mentirem em juízo, conforme registros do Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem. O episódio deixou cicatrizes na relação institucional entre clube e autoridade.

O colunista Gilmar Ferreira, do Extra, tratou o caso com cautela, mas pediu explicações públicas da entidade. “Essa visita aleatória, e ao que parece isolada, a um treino do Flamengo na antevéspera de uma partida decisiva precisa ser bem explicada. O futebol brasileiro dá passos perigosos de regressão na relação entre seus agentes”, escreveu. Ferreira lembrou que Flamengo e Palmeiras vivem clima político tenso, com troca de acusações entre seus dirigentes e disputas extracampo que vão da arbitragem à criação da nova liga.

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A discussão, que começou técnica, logo se tornou simbólica. No centro, a pergunta que o Flamengo faz ecoar é se havia necessidade de uma operação com dez fiscais justamente na semana de um jogo que carrega rivalidade acirrada e guerra de bastidores. A entidade, até agora, não explicou os critérios de escolha nem se outros clubes foram submetidos a fiscalizações semelhantes no mesmo período.

O caso reacende o debate sobre transparência e proporcionalidade nas ações da ABCD. Embora o combate ao doping seja essencial para a credibilidade esportiva, a execução de testes deve preservar a integridade dos treinamentos e evitar interpretações políticas. Em meio ao embate público entre Flamengo e Palmeiras, qualquer gesto administrativo se converte em combustível para desconfianças. E, como diz o velho ditado, a mulher de César não deve apenas ser honesta, precisa parecer.

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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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