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Conselho deliberativo deve aprovar academia no lugar do museu com facilidade

Conselho deliberativo deve aprovar academia no lugar do museu com facilidade

O Conselho Deliberativo do Flamengo vota no próximo dia 24, na Gávea, um aditivo no contrato do Museu do Clube e a possível instalação de uma unidade da Smart Fit na sede social. As deliberações envolvem dirigentes, conselheiros e o Instituto responsável pela operação do espaço histórico, em um momento em que o debate sobre patrimônio, memória e interesses comerciais volta a ganhar intensidade. As decisões acontecem porque o clube pretende realocar áreas antes destinadas ao museu, ajustar obrigações contratuais e abrir uma nova frente de receita, enquanto vozes internas questionam como o processo foi conduzido e por que o valor simbólico da história tem sido tratado de forma secundária.


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Ruy Castro, que participa do documentário sobre os 130 anos do clube, lembrou no filme que a história do Flamengo está acima de circunstâncias e que ela é o maior patrimônio. O escritor fala com naturalidade sobre algo quase intocável para qualquer rubro-negro: não existe ativo financeiro que se compare ao valor cultural que sustenta a identidade de uma instituição como o Mais Querido. É uma reflexão que ressoa dentro da Gávea num momento em que as decisões patrimoniais estão atreladas a cálculos essencialmente econômicos.

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A reunião do Conselho Deliberativo analisará dois pontos centrais. O primeiro é o aditivo ao contrato com o Instituto ISV e Mude Brasil, responsável pelo Museu Flamengo. Em 2018, quando o projeto foi aprovado, o espaço previsto somava dois mil metros quadrados. Mil e duzentos já foram utilizados no primeiro andar, onde o museu funciona desde 2023. Os oitocentos metros restantes, no segundo piso, seriam incorporados na fase seguinte. O aditivo devolve essa área ao clube e redesenha obrigações financeiras, amplia garantias e ajusta o prazo de vigência, já que o museu precisará interromper parte das atividades durante as obras estruturais.

O segundo item é a negociação com a rede Smart Fit para ocupar o pavimento acima do museu. A academia seria instalada por meio de cessão onerosa e abriria uma nova fonte de receita recorrente. O tema divide opiniões há semanas. Um grupo vê vantagem na capacidade da Smart Fit de movimentar o espaço e gerar retorno financeiro. Outros defendem que a alteração fere o planejamento inicial, reduz a área cultural prevista e simboliza mais um passo na transformação da sede em ambiente essencialmente comercial.

A articulação política em torno da votação já domina as conversas internas. Membros do Conselho confirmam que as principais lideranças estão inclinadas a aprovar o projeto, o que deve garantir um placar confortável, apesar da resistência de alguns conselheiros. A crítica mais frequente não se restringe à mudança de metragem. O incômodo maior é que o processo avançou sem reflexão profunda sobre o impacto simbólico da decisão. O museu, por sua natureza, não se resume à montagem de vitrines. Requer curadoria permanente, conservação, comunicação e investimento continuado. Por isso a redução de espaço é vista como uma sinalização de prioridades.

Entre as discussões que circulam, um ponto desperta atenção: o vice-presidente envolvido na articulação da academia tem relação profissional com o setor. Mesmo que não haja vínculo direto, quem acompanha as conversas entende que existe conflito de interesse, já que a instalação da Smart Fit favorece a área onde ele atua fora do Flamengo. O desconforto aumentou depois que conselheiros perceberam que parte das negociações aconteceu sem debate amplo, apesar de atingir o museu recém-inaugurado e afetar um pedaço importante do patrimônio imaterial do clube.

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Enquanto os pontos técnicos continuam sendo detalhados, o pano de fundo dessa disputa é a percepção de que a história não tem sido tratada com a centralidade que merece. A decisão de 2018, que previa um museu maior, foi celebrada como marco. Agora, seis anos depois, mudanças estruturais serão votadas com base em cálculos de rentabilidade. O debate reacende a velha questão sobre por que os projetos ligados à memória institucional raramente recebem o mesmo cuidado destinado a iniciativas comerciais.

O Flamengo caminha para aprovar as duas propostas no dia 24, provavelmente com margem ampla. O movimento amplia a receita da sede, reorganiza o contrato com o instituto responsável pelo museu e reorganiza as áreas da Gávea. Mas também expõe uma ferida antiga: a dificuldade de tratar a história como prioridade permanente. Por trás das paredes onde o clube guarda sua memória, vive a lembrança de que esse patrimônio é o que sustenta tudo o que o Flamengo representa.

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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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