Empresa já tem investidor e projeto para expansão do museu, mas diretoria do Flamengo mira academia; veja detalhes do contrato

Diante do imbróglio sobre o futuro do Museu do Flamengo, buscamos detalhes do contrato do clube com a Mude Brasil, empresa responsável pela gestão do espaço, e as implicações estatutárias do projeto — aprovado pelo Conselho Deliberativo em duas ocasiões. Confira.

INÍCIO DO PROJETO
O projeto atual do Museu do Flamengo teve início em 2017, como parte da expansão do Fla Memória. A proposta era ampliar os 300 m² originais para 2.100 m². Em 27 de março de 2018, o projeto da Mude Brasil foi escolhido e aprovado, com a empresa assumindo a responsabilidade de captar recursos no mercado. Em 3 de junho de 2019, ainda houve a votação de um aditivo ao contrato, que também teve aprovação dos conselheiros.

DURAÇÃO DO CONTRATO
O acordo entre Flamengo e Mude Brasil tem vigência de 10 anos, contados a partir da inauguração do museu, em 4 de agosto de 2023. Ou seja, até 4 de agosto de 2033, a empresa gerirá o espaço, que só então passará integralmente para o clube.

A Mude Brasil detém o “Direito de Uso de Espaço” — os 2.000 m² aprovados pelo Conselho Deliberativo em 2018 —, onde o museu foi construído.

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OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
Além da captação de recursos, a Mude Brasil é responsável pela estruturação, exposição, gestão, operação, contratação de funcionários e pela expansão prevista no segundo andar.

Já o Flamengo deve fornecer o acervo histórico (documentos, fotos, vídeos, etc.) e indicar um curador para trabalhar em conjunto com a empresa. Desde o falecimento de Eduardo Vinícius, em 27 de junho de 2024, o museu segue sem curador.

EXPANSÃO DO MUSEU
O projeto inicial sofreu ajustes e atrasos, e o museu foi inaugurado em 2023 com 1.200 m² — abaixo dos 2.000 m² prometidos. Em nota oficial, o clube afirmou:

“O Museu Flamengo ocupará uma área de 1.200 m², com expansão futura para 2.000 m². Com 14 áreas temáticas, contará a história do Mais Querido, destacando conquistas e ídolos.”

A Mude Brasil já tem um investidor e projeto pronto para a expansão no segundo andar. No entanto, a nova diretoria do Flamengo estuda usar parte do espaço para uma academia. Na última segunda (30), técnicos visitaram o local para medições e estudos de viabilidade do novo empreendimento.

IMPLICAÇÕES CONTRATUAIS E ESTATUTÁRIAS
Para utilizar os 800 m² do segundo andar do museu para a construção e funcionamento de uma academia, a diretoria terá que convencer a Mude Brasil a abrir mão do espaço, já que a empresa tem o direito, por contrato, de utilizar o local por 10 anos.

Além disso, a alteração do projeto do museu teria que ser revisada e votada pelo Conselho Deliberativo, pois, com a construção de uma academia, o Museu do Flamengo ficaria estruturado de maneira muito diferente do que foi aprovado em 2018.

CONFLITO DE INTERESSES
O vice-presidente de Patrimônio Histórico, José Antônio da Rosa, é fundador da Bodytech, ex-sócio da Smart Fit e atualmente proprietário da rede DNA Experience. Internamente, o fato de intermediar conversas com empresas do mesmo segmento para implantação de uma academia no espaço destinado à expansão do museu vem sendo apontado como conflito de interesses.

Em contato com a reportagem, o dirigente negou qualquer participação no negócio e afirmou que sua atuação se limita a intermediar conversas entre as empresas interessadas e o clube. Segundo ele, a decisão final é do presidente Luiz Eduardo Baptista, o Bap.

Cronologia do projeto do Museu do Flamengo:

• Março de 2018 – Ainda na gestão de Eduardo Bandeira de Mello, surgiu o projeto, aprovado no Conselho Deliberativo, para expandir os 300 m² do Fla Memória para 2.100 m² dedicados ao patrimônio histórico do clube;
• Julho de 2019 – O Conselho Deliberativo aprovou um aditivo no contrato com a Mude Brasil para uso de espaço e parceria comercial para viabilizar o projeto do museu;
• Dezembro de 2019 – A gestão Rodolfo Landim apresentou o projeto do novo museu aos sócios;
• Novembro de 2021 – Em evento na Gávea, a diretoria anunciou o início das obras e os patrocínios do Banco BRB, Ambev, Epson, Tim, Estapar e Trem do Corcovado, com previsão de inauguração para julho de 2022;
• Agosto de 2023 – O Flamengo inaugurou 1.200 m² do novo museu, com promessa de futura expansão para 2.000 m² e utilização do segundo andar.

Durante a campanha eleitoral, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, prometeu em seu plano de governo: “valorizar o Museu do Flamengo, buscando torná-lo um dos pontos turísticos relevantes do Rio” e “avaliar oportunidades para que o museu ganhe ainda mais destaque, podendo se tornar, no futuro, um dos cinco pontos turísticos mais importantes do estado”.

Em abril de 2024, o Museu do Flamengo foi oficialmente incluído no roteiro turístico da cidade do Rio de Janeiro, após aprovação de projeto de lei de autoria do vereador Marcos Braz pela Câmara Municipal.

Imagem: Mude Brasil/Reprodução

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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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