Consultor de gramados da FIFA fala sobre o projeto de padronização do Flamengo enviado à CBF

Consultor de gramados da FIFA fala sobre o projeto de padronização do Flamengo enviado à CBF

A proposta enviada pelo Flamengo à CBF sobre a padronização dos gramados no futebol brasileiro ganhou novos contornos após a manifestação de um consultor da FIFA especializado no tema. O debate, que vem sendo tratado por parte da imprensa como uma tentativa de imposição rubro-negra, na verdade nasceu dentro de um movimento mais amplo conduzido pela própria confederação, que decidiu abrir um grupo de trabalho voltado a pautas estruturantes do futebol nacional.


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A iniciativa da CBF envolve temas como fair play financeiro, calendário e, especialmente, a qualidade dos campos utilizados nas competições organizadas pela entidade. Aos clubes, foi feito um convite formal para que apresentassem sugestões técnicas. O Flamengo respondeu com um projeto que propõe critérios objetivos de certificação e homologação de gramados, nos moldes do que já é realizado pela FIFA em competições internacionais.

A ideia central é simples e, ao mesmo tempo, ambiciosa: criar um padrão mínimo nacional para os campos da Série A e da Copa do Brasil, com uma elevação gradual da exigência técnica. Pelo plano apresentado, os estádios da elite deveriam atingir, até 2027, o nível 4 de qualidade estabelecido pela FIFA, considerado “bom”. A partir de 2028, a exigência passaria a ser o nível 5, o mais alto da escala, equivalente ao utilizado em Copas do Mundo e grandes torneios continentais.

O momento escolhido para a discussão não é aleatório. O Brasil será uma das sedes do Mundial Feminino de 2027, o que obrigará uma quantidade significativa de estádios e centros de treinamento a se adequarem aos critérios da FIFA. Durante cerca de um ano e meio, técnicos da entidade máxima do futebol estarão no país avaliando aproximadamente 88 estádios e dezenas de centros de treinamento. Segundo o consultor ouvido, trata-se de uma oportunidade rara de aproveitar esse conhecimento acumulado para implementar um padrão nacional consistente.

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Na avaliação do especialista, o raciocínio faz sentido do ponto de vista técnico e operacional. A FIFA já possui protocolos detalhados de inspeção, manutenção e certificação, e historicamente colabora com federações nacionais que desejam elevar o nível de seus campeonatos. A padronização, nesse contexto, não seria uma imposição, mas um processo gradual de qualificação, capaz de reduzir as enormes disparidades hoje existentes entre os gramados brasileiros.

O consultor destacou ainda que a uniformização ajuda a resolver um problema antigo do futebol nacional: a imprevisibilidade das condições de jogo. Hoje, clubes e atletas convivem com campos em estados radicalmente diferentes, o que interfere no ritmo das partidas, aumenta o risco de lesões e compromete a qualidade técnica do espetáculo. Ele lembrou que, nas principais ligas europeias, não existem gramados sintéticos em uso regular e que a manutenção é rigidamente monitorada por associações especializadas.

A Premier League foi citada como exemplo de boas práticas. Na Inglaterra, há um conjunto de regras padronizadas para manutenção, drenagem, corte e irrigação. Cada intervenção é registrada, acompanhada e auditada. O resultado aparece semanalmente nas transmissões: campos visualmente impecáveis e tecnicamente consistentes, independentemente do estádio ou da rodada.

Um ponto importante do debate diz respeito ao uso de gramados sintéticos. O consultor foi categórico ao afirmar que a liberação desse tipo de piso pela FIFA ocorre apenas em caráter excepcional, nunca como regra. A entidade não considera o sintético a melhor solução, mas uma alternativa possível em contextos específicos, geralmente ligados a clima extremo ou limitações estruturais. Em nenhum momento o projeto discutido coloca o gramado artificial como padrão desejável.

No cenário brasileiro, a Neo Química Arena surge frequentemente como referência de qualidade. Segundo a análise técnica, o estádio do Corinthians possui características muito próximas de um gramado europeu de alto nível, com grama do tipo Ryegrass, sistema híbrido avançado, drenagem eficiente e controle térmico. Isso explica por que jogadores acostumados ao futebol europeu costumam elogiar o campo quando atuam ali.

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A principal diferença entre a Neo Química Arena e o Maracanã, por exemplo, está na variedade da grama utilizada. Enquanto o Corinthians opera com um padrão mais próximo do europeu, o Flamengo precisa lidar com um clima mais quente e úmido, o que exige estudos específicos para avaliar a adaptação de determinadas espécies. Estruturalmente, no entanto, os estádios são semelhantes, ambos com base híbrida, perfil de solo adequado e sistemas modernos de irrigação e drenagem.

O próprio consultor reconhece que ainda há margem para evolução, inclusive nos melhores gramados do país. A padronização não significaria engessamento, mas a definição de parâmetros mínimos de segurança, desempenho e durabilidade. A partir disso, cada clube poderia buscar soluções que melhor se adequassem à sua realidade climática e estrutural.

Ao contrário do que parte do debate sugere, a proposta não nasce como um manifesto político, mas como um documento técnico inserido em um processo institucional conduzido pela CBF. Com o Mundial de 2027 no horizonte e a presença contínua de equipes da FIFA no país, a discussão ganha urgência e deixa de ser apenas uma pauta do Flamengo para se tornar uma questão estratégica do futebol brasileiro.

Consultor da FIFA explica por que gramados sintéticos não são usados nos torneios da entidade

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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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Tulio Rodrigues

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