“Deixo de ser Candidato” – Comunicado Oficial – Affonso Romero

Há alguns meses, fui convidado por um grupo de rubro-negros para, juntos, formularmos propostas para uma renovação política e administrativa do Flamengo. Não conseguíamos ver, no quadro eleitoral que então se desenhava, nenhuma corrente ou candidatura que empunhasse as bandeiras que sonhávamos ver implantadas no clube.

Reunimos mais gente e lançamos a Revolução Rubro-Negra, um movimento político (mas não exclusivamente eleitoral), que acolheu indiscriminadamente sócios e não-sócios, torcedores de estádio e “de sofá”, cariocas e brasileiros das mais diversas origens, profissionais de muitas áreas, pessoas de posições sociais diversas. Enfim, reunimos um microcosmo da diversidade que é um dos orgulhos de ser Flamengo.

Tínhamos o direito estatutário de participar do processo eleitoral – fator de importância fundamental – e, mais que isso, a obrigação de sair da arquibancada para o campo, de defender as nossas ideias no espaço público do debate eleitoral.

Fui merecedor da confiança dos demais revolucionários que lançaram o meu nome como pré-candidato à Presidência. Ainda que este seja mais um conceito novo na política de clubes, a Revolução realmente é uma ação coletiva, da qual eu sou apenas mais um membro, com a condição especial e transitória de estar candidato. Uma candidatura que, ao contrário do convencional, nunca foi minha individualmente, nunca colocou o pessoal acima do coletivo.

Juntos, preparamos e divulgamos um Plano de Gestão como nunca foi apresentado nenhum ao Flamengo, nem por candidato, nem por Diretoria empossada.

A soma desses fatores permitiu à Revolução Rubro-Negra conversar com todas as correntes políticas internas sem o viés da imposição de um nome mas, antes, do debate acerca de ideias e conceitos. Nosso primeiro objetivo era a evidenciação da necessidade de um Choque de Gestão Profissional no clube, trazendo este tema para o centro do processo eleitoral. Fomos amplamente vitoriosos nesta missão. Hoje, nenhuma pré-candidatura ignora esta necessidade, sendo que até mesmo a atual Diretoria – símbolo acabado de amadorismo e falta de governança – assumiu um discurso parcialmente simpático a esta causa. Outras candidaturas aprofundaram-se neste tema, ainda que o entendimento da Revolução seja o de que sejam ainda propostas rasas e tímidas na direção da profissionalização e impessoalidade da gestão do Flamengo.

Esta vitória revolucionária compensa os esforços de ter estado envolvido, durante três meses, com um ambiente político que se desenvolve abaixo dos meus princípios pessoais. Quando anunciei minha decisão de participar do processo eleitoral ao meu círculo íntimo de amigos e parentes, fui alertado quanto a estas condições, para as quais me senti preparado.

Efetivamente, durante este período, fui alvo de agressões pessoais, ameaças, ironias, provocações, deslealdades e até mesmo tentativa de chantagem. Digo sempre que estas coisas não atingem a quem está certo de suas intenções, nem a quem age sempre conforme aquilo que acha correto. Minhas opiniões e colocações, acertadas ou equivocadas, são dadas sempre com transparência, e o que digo em privado é igual ao que manifesto publicamente. Portanto, ainda que tentem distorcer declarações minhas tirando-as do contexto, eu não retiro nem me envergonho de nada que tenha dito ou escrito. Quem tenta me combater com artifícios e simulacros dá apenas prova de que aderiu à baixaria política reinante, instigando-me ainda mais para o bom combate.

Por fim, fui vítima de uma invasão em meu computador pessoal e da premonição de alguns caciques internos de que eu teria deixado a disputa, ainda que jamais tenha falado disso com ninguém. Também sobre este tipo de tática eu estava alertado e preparado para enfrentar.

No entanto, ainda que outras tentativas de manipulações estatutárias infelizmente já tenham ocorrido na história política do clube, nunca me coloquei disponível para um debate que tenha que ser deslocado do campo propositivo para o campo jurídico. Não sou advogado, nem legislador, mas sou legalista por princípio, de modo que qualquer coisa que possa levar a instituição à incerteza jurídica me parece abominação e irresponsabilidade.

Exatamente para evitar esta circunstância, a Revolução Rubro-Negra enviou aos Conselhos de Administração e Deliberativo, a tempo e a hora, consulta sobre a situação eleitoral de anistiados, de forma impessoal, até mesmo porque há dentre nossos simpatizantes e aliados sócios que estavam nesta condição, bem como era de se supor que a mesma situação poderia se repetir nas demais chapas.

Tivemos vistas às respostas em que os Conselhos afirmam, em termos gerais, e de forma impessoal, que anistiados têm direito a voto, mas não a serem votados, pelos motivos indicados na diferenciação da redação dos textos estatutários referentes a cada uma das condições. Traçamos nossa estratégia eleitoral em cima de uma decisão tomada de forma impessoal, bem como acreditamos que o mesmo foi feito pelos demais pré-candidatos, uma vez que o conteúdo dos pareceres é de conhecimento geral das chapas.

A insistência em “forçar a barra” do Estatuto, exigindo que os Conselhos revejam seus pareceres a partir do fato específico de uma determinada candidatura e seu poder de reverberação política, apesar de ser um direito, é uma demonstração clara de voluntarismo, pessoalidade e ambição que atropela os interesses comuns do clube. Faz-se necessário lembrar que, uma vez afrontado o Estatuto e os Poderes independentes, a Comissão Eleitoral pode, inclusive, considerar incompleta a chapa que apresente nome notoriamente incompatível com as condições de elegibilidade para cargo majoritário, indeferindo o registro em tempo hábil e, portanto, não permitindo sequer a revisão da composição de tal chapa.

Seja qual for o desdobramento destes cenários, o processo aponta para um impasse jurídico prejudicial à estabilidade institucional e aos interesses legítimos do Flamengo.

Portanto, abro mão de participar de uma eleição cujo resultado, seja qual for, estará contaminado e comprometido por este tipo de descaso e truculência. Não quero, com o meu nome, ajudar a legitimar aquilo que eu acredito ser um desrespeito ao clube e seu Estatuto, bem como prefiro utilizar meus esforços para evitar que o mal maior seja feito, sem, contudo, defender causa própria.

A Revolução Rubro-Negra seguirá atuando no espectro político do Flamengo, com ou sem participação no processo eleitoral, segundo a decisão livre da maioria de seus membros, decisão para a qual eu me absterei de votar. Coerente com seus propósitos, a Revolução é um movimento que vai muito além de uma eleição, apoiando iniciativas que se alinhem a nossos objetivos declarados, cobrando os atores da política da Gávea e zelando pela legalidade.

Gostaria, por fim, de agradecer a confiança e a prestimosa colaboração de todos os demais revolucionários, simpatizantes e apoiadores, o respeito e isenção dos blogs e órgãos de imprensa que deram espaço para a apresentação de nossas ideias e reafirmar a nossa esperança em um futuro melhor para o Clube de Regatas do Flamengo”.

Affonso Romero – Sócio proprietário

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