Dossiê Libra: Flamengo sofreu boicote dentro da Libra: vetos a Bap, atrasos e falta de transparência

Dossiê Libra: Flamengo sofreu boicote dentro da Libra: vetos a Bap, atrasos e falta de transparência

O conflito entre o Flamengo e a Liga do Futebol Brasileiro (Libra) chegou ao seu ponto mais tenso em setembro de 2025, quando o clube da Gávea ingressou com uma ação judicial no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro para suspender os efeitos da assembleia que definiu o rateio das receitas de audiência do Campeonato Brasileiro. A decisão liminar favorável ao Flamengo, que determinou o bloqueio de cerca de R$ 77 milhões em repasses da Globo, expôs um desgaste acumulado desde a assinatura do estatuto da Libra, ainda em 2024, e revelou uma disputa que ultrapassa o campo financeiro, trata-se de poder, protagonismo e representação no futebol brasileiro.


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A origem do impasse remonta ao fim da gestão Rodolfo Landim, quando, em setembro de 2024, o Flamengo assinou o estatuto da Libra com um modelo de distribuição considerado equilibrado: 40% igualitário, 30% por desempenho e 30% por audiência. À época, o texto não trazia o detalhamento do critério para calcular a fatia de audiência, lacuna que mais tarde se tornaria o ponto central da crise.

Quando Luiz Eduardo Baptista, o Bap, assumiu a presidência do Flamengo em janeiro de 2025, uma das primeiras medidas foi revisar os contratos firmados pelo clube. O dirigente percebeu que não havia definição objetiva sobre como a audiência seria medida e passou a questionar o modelo adotado pela Libra. O Flamengo defendia que o cálculo deveria se basear nos cadastros de assinantes do pay-per-view, o que refletiria com mais precisão o engajamento real das torcidas, especialmente a rubro-negra, que lidera em alcance e número de torcedores.

Entre fevereiro e abril de 2025, Flamengo e Libra mantiveram conversas para tentar chegar a um consenso, mas as tratativas não avançaram. O clube via resistência de equipes como Atlético-MG, São Paulo e do Palmeiras, principal aliado da presidente da Libra, Silvio Matos. As divergências se acentuaram quando a liga convocou, em maio, a primeira assembleia para discutir a divisão da cota de audiência. O Flamengo apresentou uma proposta alternativa, mas o encontro terminou sem deliberação.

Em agosto, uma nova assembleia foi convocada. A Libra aprovou o chamado “cenário 1”, que consolidava a metodologia de rateio em vigor, contrariando Flamengo e Volta Redonda, os únicos votos dissidentes. O Rubro-Negro alegou que a reunião foi irregular, já que o estatuto exigia unanimidade para esse tipo de definição. A liga, por outro lado, sustentou que possuía um documento assinado por Landim endossando o modelo.

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Sem resposta ao pedido de comprovação, o Flamengo notificou extrajudicialmente a Libra e a Globo em setembro, questionando o repasse de valores baseado num critério considerado ilegal. Poucos dias depois, o clube ingressou com ação na Justiça do Rio pedindo a suspensão dos efeitos da assembleia de agosto e o bloqueio da segunda parcela de pagamentos da emissora, no valor de R$ 77 milhões. A desembargadora responsável concedeu liminar favorável, determinando o depósito judicial da quantia até a decisão final.

O caso acendeu uma disputa pública entre as partes. A Libra acusou o Flamengo de agir de forma unilateral e de tentar impor seus interesses ao restante dos clubes, enquanto o Rubro-Negro respondeu afirmando que apenas buscava garantir o cumprimento do estatuto e o respeito ao seu poder de geração de receita. O embate extrapolou o campo jurídico e foi parar na mídia, com notas oficiais, manifestações de dirigentes e troca de acusações sobre transparência, governança e lealdade institucional.

Para o Flamengo, a questão é de justiça: o clube sustenta que sua audiência representa 47% do total entre os membros da Libra, e que a divisão proposta, de 20,41%, ignora a força econômica e simbólica da maior torcida do país. Para a Libra, o problema é de postura: acusa o clube de agir com prepotência e tentar “virar a mesa” por meio de liminares.

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Enquanto o debate ganha novos capítulos, o futebol brasileiro segue à espera de um modelo de liga que una interesses, em vez de multiplicar disputas. E, até que a Justiça decida, os recursos seguirão bloqueados, refletindo um impasse que mistura política, economia e vaidades em proporções típicas do ambiente do futebol nacional.

Linha do tempo da disputa entre Flamengo e Libra

Setembro de 2024
– O então presidente Rodolfo Landim assina o estatuto da Libra;
– É definido o modelo 40% (igualitário), 30% (desempenho) e 30% (audiência), sem detalhamento sobre como calcular a fatia de audiência.

Janeiro de 2025
– Luiz Eduardo Baptista, o Bap, assume a presidência do Flamengo;
– Inicia revisão dos contratos da Libra e identifica ausência de critérios claros no rateio da audiência.

Fevereiro – Abril de 2025
– Primeiras conversas entre Flamengo e Libra buscam consenso;
– O clube propõe o uso de cadastros do pay-per-view como parâmetro de cálculo;
– Negociações não avançam.

Maio de 2025
– Primeira assembleia da Libra discute a fatia de audiência;
– Flamengo apresenta proposta alternativa aos cinco cenários apresentados pela entidade;
– Reunião é suspensa sem deliberação.

Agosto de 2025
– Nova assembleia aprova o “cenário 1”, consolidando a divisão atual;
– Flamengo e Volta Redonda votam contra. Paysando se abstém;
– O clube alega irregularidade por falta de unanimidade.

Setembro de 2025
– Flamengo notifica extrajudicialmente Libra e Globo;
– Clube ingressa com ação no Tribunal de Justiça do Rio pedindo suspensão da assembleia e bloqueio de valores da Globo;
– Desembargadora concede liminar favorável ao Flamengo, bloqueando cerca de R$ 77 milhões;
– Libra recorrer da decisão.

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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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Tulio Rodrigues

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