Estranho: o livro sobre o Flamengo proibido no esporte da Globo
O livro “Longe do Ninho“, da jornalista Daniela Arbex, venceu o Prêmio Jabuti de 2025 na categoria Biografia e Reportagem, a mais prestigiada premiação da literatura brasileira. A obra, que retrata a tragédia no Ninho do Urubu e humaniza a história dos dez jovens mortos no incêndio de 2019, foi impedida de ser divulgada na editoria esportiva do Grupo Globo, segundo revelou o colunista Juca Kfouri. A decisão interna causou surpresa e desconforto entre jornalistas da casa, especialmente diante da importância jornalística e humana do tema.
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O livro de Arbex foi lançado em 2024 e rapidamente se tornou uma das principais referências sobre o incêndio que marcou a história do Flamengo e do futebol brasileiro. Em linguagem sensível, a autora resgata o cotidiano dos meninos que viviam o sonho de vestir o Manto Sagrado e mostra o impacto da tragédia nas famílias, na comunidade Rubro-Negra e na sociedade. A premiação do Jabuti, conquistada em outubro de 2025, foi o terceiro reconhecimento da carreira da jornalista, que já havia vencido o prêmio em outras duas ocasiões por trabalhos de fôlego investigativo.
Mesmo com a relevância do tema, o livro não pôde ser mencionado em nenhuma das plataformas esportivas da Globo, como a TV aberta e o SporTV. Segundo Kfouri, a proibição partiu da editoria de Esporte, o que frustrou profissionais da emissora. Juca classificou a decisão como absurda. Curiosamente, a própria GloboNews celebrou a vitória de Arbex com posts colaborativos nas redes sociais, o que indica que a restrição é restrita ao núcleo esportivo da empresa.
O silêncio contrasta com a postura que a emissora adotou em 2019, quando acompanhou de forma intensa as investigações sobre o incêndio e cobrou publicamente respostas do Flamengo. À época, repórteres e comentaristas do canal esportivo exigiam transparência e justiça. Agora, a ausência de menção a uma obra reconhecida nacionalmente levanta questionamentos sobre o limite entre jornalismo e conveniência editorial.
Paralelamente, o caso segue no Judiciário. Após a absolvição dos réus no último dia 21 de setembro, o Ministério Público do Rio de Janeiro recorreu da decisão. O juiz Thiago de Barros havia considerado que as provas apresentadas eram insuficientes para estabelecer a responsabilidade direta dos acusados. Segundo a sentença, a perícia não conseguiu determinar de forma conclusiva a causa do incêndio, que poderia ter sido provocada por falha elétrica, sobrecarga de energia ou defeito em aparelhos de ar-condicionado.
O MP, no entanto, argumenta que a denúncia não se limitava à origem do fogo, mas à negligência anterior nas condições do alojamento. O recurso foi encaminhado ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que agora ouvirá novamente as partes envolvidas antes de emitir um novo parecer. O processo se arrasta há quase seis anos, e as famílias seguem buscando uma resposta definitiva da Justiça.
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O contraste entre o reconhecimento literário e o silêncio midiático é simbólico. “Longe do Ninho” devolve rosto, voz e história aos meninos que o noticiário transformou em números. Ignorá-lo, especialmente por parte de quem se diz comprometido com a informação, é negar não apenas o livro, mas a memória das vítimas.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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