Jogo do Flamengo contra PSG expõe incoerência de comentaristas e muda o debate no futebol brasileiro
Há uma fronteira clara entre o torcedor e o analista. O primeiro reage por impulso, ri da derrota alheia, relativiza a própria dor e não tem compromisso algum com coerência. O segundo, sobretudo quando ocupa espaço em programas de grande alcance, assume a responsabilidade de destrinchar o jogo. Isso envolve contexto, números, escolhas táticas, limitações físicas e o peso histórico do confronto. Ignorar esse conjunto para reforçar narrativas prontas é menos análise e mais espetáculo.
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O Flamengo perdeu nos pênaltis. Esse é o dado objetivo. A partir dele, cabem leituras distintas, mas não versões desconectadas da partida. O duelo foi equilibrado no placar, com domínio territorial maior do PSG em boa parte do tempo, embora pouco produtivo. O time brasileiro competiu, resistiu e levou a decisão até o limite. Reduzir isso a frases como “não viu a cor da bola” exige um recorte seletivo dos fatos. Posse de bola, isoladamente, nunca foi sinônimo automático de superioridade. O próprio futebol europeu construiu títulos recentes com equipes confortáveis sem a bola, apostando em controle de espaço e eficiência.
É nesse ponto que surgem contrastes interessantes. O ex-jogador Rafael Sóbis, identificado historicamente com o Internacional, fez uma leitura dura para quem não é flamenguista, mas honesta. Reconheceu que o Flamengo colhe hoje o que plantou em gestão, estrutura e investimento. Admitiu, sem rodeios, que competir com esse nível passou a ser um desafio real para os rivais brasileiros. Não houve tentativa de minimizar a derrota nem de dourar o resultado. Houve reconhecimento de processo.
Análise semelhante veio de comentaristas conhecidos pelo vínculo afetivo com outros clubes, mas capazes de separar paixão e leitura técnica. Ao colocar o Flamengo entre os principais clubes do mundo, o argumento não se apoiou apenas naquele jogo, e sim em uma trajetória recente marcada por títulos, poder financeiro e presença constante em decisões. Esse tipo de abordagem ajuda a entender por que a partida contra o PSG não foi tratada internamente como uma epopeia, mas como mais um degrau de um projeto que se consolidou ao longo da última década.
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Há um ponto raramente explorado nesses debates: o impacto estrutural de um clube brasileiro se apresentar nesse nível. O Flamengo não apenas disputou o título. Ele elevou o patamar de percepção do futebol nacional. Contratações na casa de dezenas de milhões de euros, patrocínios recordes e valorização de ativos reverberam pelo mercado inteiro. Clubes que antes negociavam em outro patamar passaram a ter referências mais altas, ainda que não alcancem os mesmos números.
Isso não significa que o Flamengo seja invencível ou que vá ganhar tudo indefinidamente. Significa que o futebol brasileiro passou a ter um representante capaz de sentar à mesa com grandes clubes globais, não apenas pela camisa, mas pela capacidade operacional. Tratar esse fenômeno como irrelevante ou diminuí-lo por rivalidade é fechar os olhos para uma transformação real.
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No fim, a derrota dói, como qualquer derrota. Perder para o XV de Piracicaba ou para o PSG provoca frustração. A diferença está no que se faz com ela. A análise honesta não precisa proteger o Flamengo nem atacá-lo por conveniência. Precisa, apenas, respeitar os fatos. E os fatos mostram que o clube não saiu menor daquela final. Para muitos, saiu ainda mais como referência.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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