O ambiente na Gávea segue conturbado. Logo após o time chegar ao seu décimo jogo sem vencer, Márcio Braga, ex-presidente, se manifestou de forma crítica à gestão da atual presidente Patrícia Amorim. E posso afirmar que ele tocou na ferida da mandatária rubro-negra.
Patrícia Amorim não gostou nem um pouco das declarações de Márcio Braga. Tanto que, em tempo recorde, convocou a imprensa para exercer seu direito de resposta, algo bem diferente do que ocorreu em outras crises. Nunca gostei desse comportamento omisso, pois parece que, no posto mais importante do Flamengo, há uma pessoa que foge de suas responsabilidades. Isso ficou evidente nos casos de Adriano, Vagner Love (envolvimento com traficantes), Bruno (assassinato), Andrade (demissão) e na acusação contra Zico. Ainda acrescento a falta de reforços à lista de suas omissões.
Gostei de tudo que Márcio Braga disse. Não que ele tenha sido um presidente de uma gestão impecável; ele enfrentou crises, falava demais e se equivocava em alguns momentos. Mas o que vi foi um flamenguista falando o que milhares queriam dizer. Márcio Braga criticou a passividade da oposição, a gestão de Luxemburgo no futebol e os Srs. Capitão Léo e Peruano, protagonistas de polêmicas envolvendo Zico e Arthur Muhlenberg.
Alguns consideram essa discussão desnecessária e afirmam que ela só atrapalha o ambiente do clube, que já passa por uma crise. Discordo, desde que Luxemburgo mantenha o foco e não leve isso para dentro de campo. Uma discussão inteligente sobre o Flamengo é sempre válida! Outro ponto importante que Márcio Braga abordou foi a democratização do clube. Segundo a atual presidente, temos nove mil associados, mas será que todos estão em dia para votar na próxima eleição? E, de qualquer forma, esse número não representa nem 10% da torcida do Flamengo.
Já passou da hora de lançar um programa de sócio-torcedor. Além de gerar uma receita significativa para o clube, essa ação pode aproximar o torcedor do Flamengo. Essa história de que não se pode lançar um sócio-torcedor porque não temos estádio não cola! O clube precisa se democratizar, e não se afastar de seu torcedor. Mas parece que quem está lá dentro não quer essa aproximação. Chegou-se até a propor que a eleição para presidente seja indireta, o que seria um absurdo!
Faça um programa de sócio-torcedor com direito a voto e prioridade na compra de ingressos, cobrando entre trinta e quarenta reais mensais, e vamos ver se não fará sucesso. Não quero ir à Gávea tomar banho de piscina, e muitos torcedores também não. Mas poder votar e participar dessa forma no Flamengo, qual torcedor não quer? O Flamengo não acaba em noventa minutos; ele vai além disso, e todo torcedor consciente sabe disso.
Outro ponto importante que Márcio Braga apontou foi a saúde financeira do clube. É fato que as despesas aumentaram muito. Dizer que as receitas também cresceram é exagero. O clube passou boa parte do ano sem patrocínio máster porque não conseguiu alcançar o valor estipulado em conjunto com a Traffic. De onde está vindo o dinheiro para equilibrar as contas do Flamengo? E as receitas e ações com produtos licenciados do Ronaldinho? Oito meses se passaram desde que ele chegou, e tudo que foi prometido em termos de produtos ainda não saiu do papel.
Patrícia Amorim criticou tanto as prestações de contas da gestão de Márcio Braga, mas se esqueceu de que o balanço de seu primeiro ano de mandato (2010) ainda não foi aprovado pelo Conselho Fiscal por falta de apresentação de documentos. Há até o risco de o balanço não ser aprovado por isso. Então, criticar Márcio Braga soa como o sujo falando do mal lavado.
Nós, torcedores, precisamos olhar o clube com outros olhos e perceber que o Flamengo não se sustenta apenas de gols. O clube vai muito além disso. Corremos o risco de ver, no futuro, um Capitão Léo ou um Peruano na presidência, sem que possamos fazer nada. A cada dia, fica mais evidente a importância de se associar ao clube, pois só assim teremos voz lá dentro. Ou vamos preferir ver o Flamengo nas mãos de pessoas que se importam mais com seus interesses pessoais do que com o clube?
O Flamengo é feito pela multidão, pelo povo, e nunca foi um clube elitista. O Flamengo é meu, é seu e de qualquer outro que se torna rubro-negro. Chegou a hora de abraçarmos o clube e trazê-lo definitivamente para os braços do povo!
SRN!
Tulio Rodrigues
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