“O Ninho: Futebol e tragédia”, um documentário triste, mas necessário pela memória dos Nossos 10

Tulio Rodrigues

A minissérie “O Ninho: Futebol e Tragédia”, nos teletransporta para o dia 08 de fevereiro de 2019, dia mais triste da história do Flamengo. Foi nessa data que um incêndio tomou conta do alojamento destinado para as categorias de base do clube no Centro de Treinamento George Helal, o Ninho do Urubu.

A série é carregada, densa, emocionante e necessária. Em diversos momentos, somos impelidos de emoção, de compaixão com os familiares das vítimas, de aflição ao ver a dramatização do incêndio, de amargura, repulsa e tristeza com o descaso do clube com a tragédia.

Imagem: Reprodução/Netflix
As vítimas do incêndio no Ninho do Urubu

PRIMEIRO EPISÓDIO

No primeiro episódio, intitulado de “Sonho”, é mostrado como se dá a tentativa de milhares de garotos em se tornar jogador de futebol profissional. Nesse momento, também é mostrado em tela o início da carreira de alguns meninos que foram vítimas fatais da tragédia e de um sobrevivente: Filipe Chrysman. Vanderlei Luxemburgo e Zico, ex-jogadores, dão depoimentos. Aos poucos, você é inserido com a história de vida desses meninos, das dificuldades para a realização do grande objetivo, do que é jogar no Flamengo e paixão que envolve o clube mais popular do país.

A partir da metade do episódio, nos é apresentado como eram as instalações que viviam os garotos e como era a vida deles no Centro de Treinamento. A história do incêndio começa a ser contada a partir do dia 06 de fevereiro, dois dias antes, quando houve uma forte chuva no Rio de Janeiro, atingindo em cheio a Zona Oeste. Junto com alguns sobreviventes e o ex-segurança do Flamengo Benedito Ferreira, é contada toda dinâmica da tragédia.

SEGUNDO EPISÓDIO

Imagem: Reprodução/Netflix
Rodrigo Dunshee abandona coletiva sobre a tragédia

“Pesadelo”. Título do segundo episódio, que é quando mostram os primeiros momentos do pós-tragédia, é, de fato, um pesadelo. Como as famílias foram recebendo a notícia do ocorrido, as informações desencontradas, a primeira manifestação do Flamengo e as irregularidades do CT dão o tom do capítulo. É aqui também que se desenrola dois momentos que mostram como a diretoria do Flamengo iria tratar a questão: com descaso. Primeiramente, na conversa inicial, tendo o Ministério Público como mediador, para tratar das indenizações, depois, em nova iniciativa da diretoria, que levou os familiares para uma reunião de mediação, mas Rodolfo Landim não compareceu e em seu lugar foi Rodrigo Dunshee, vice-Geral e jurídico, que disse ter somente 15 minutos disponíveis para o encontro. “Esse dia pra mim foi o mais triste. Eu falo que foi mais triste que o próprio enterro do meu filho”, disse Marília Barros, mãe de Arthur Vinícius.

Detalhes da investigação são apresentados: fotos, laudos, perícia e o pior, e-mails internos do Flamengo, datados de maio de 2018, na gestão do então presidente Eduardo Bandeira de Mello, mostrando que funcionários do alto escalão sabiam dos riscos que a parte elétrica do alojamento trazia, pois, uma vistoria apresentou diversas irregularidades. Pesadelo mesmo!

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Imagem: Reprodução/Netflix – Bandeira de Mello é réu em processo

ÚLTIMO EPISÓDIO

O último episódio, “Despertar”, é o mais emocionante. E continua trazendo detalhes da investigação e da CPI feita pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) sobre a tragédia. Eduardo Bandeira de Mello, um dos réus do processo, é um dos destaques. O ex-presidente alega que não teve conhecimento da interdição durante seu mandato, bem como das diversas multas e apontamentos das irregularidades do local.

As famílias voltam aos campos onde seus filhos deram os primeiros passos no futebol e falam sobre a busca por justiça no caso. As homenagens feitas pelos torcedores é um dos momentos mais emocionantes do filme, bem como a homenagem do Fluminense a Bernardo Pisetta. No encerramento, é impossível não chorar junto com eles.

Imagem: Reprodução/Netflix – Pais de Christian Esmério

O documentário não é sensacionalista, não faz apontamentos de culpados, mas joga luz sobre como a tragédia poderia ter sido evitada. Além da dívida humana da instituição Flamengo para com os familiares, sobreviventes, ex-funcionário, bem como a falta de celeridade do judiciário. Pois cinco anos depois do incêndio que vitimou dez crianças o processo ainda não foi a julgamento.

Pedro Asbeg, Renato Fagundes e o UOL, desenvolvedores da série, trazem uma contribuição enorme para o debate público e para a sociedade com este filme. Isso porque, mesmo com a dureza do caso, é necessário ser assistido, assimilado e absorvido para que a memória dos meninos seja preservada e que a justiça seja feita. Não esquecemos!

Imagem: Reprodução/Netflix

Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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