O que você precisa saber sobre a redução do Museu do Flamengo e o projeto da academia

O que você precisa saber sobre a redução do Museu do Flamengo e o projeto da academia
Foto: Paula Reis/Flamengo

O Flamengo inaugurou o museu em 2023 com previsão de dois andares e 2.116 m² de área. Só metade disso foi construída. O segundo pavimento, que contemplaria a história completa do clube, incluindo modalidades olímpicas e o acervo ampliado, nunca saiu do papel. Agora, o clube planeja ceder 1.000 m² desse espaço para a Smart Fit. Em troca, receberia pagamentos mensais durante dez anos e uma suposta “receita adicional” estimada em R$ 13 milhões no período.


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Esse número, porém, não resiste a uma leitura detalhada. Pelo contrato, o Flamengo se compromete a pagar indenização mensal de R$ 300 mil à Mude Brasil, gestora do museu, por todo o período em que o espaço estiver fechado. A previsão inicial é de cinco meses, mas qualquer atraso prolongaria os custos. Só esse item consumiria R$ 1,5 milhão. A isso se somam despesas de desmontagem, armazenagem, reinstalação das exposições, ajustes de cenografia, cabeamento, reforço estrutural e rebaixamento de teto. Nada disso foi orçado no documento.

Outro ponto sensível é a mudança no mínimo garantido pago pela empresa que opera o museu ao Flamengo. O valor anual cai de R$ 480 mil para R$ 434 mil. Além disso, caso futuramente se realize uma expansão de até 500 m², tratada apenas como “possibilidade” na cláusula contratual, caberá ao clube arcar com todos os custos, inclusive a remoção de setores administrativos que operam na área. Ou seja, o texto que chegou aos sócios afirmando que a expansão estaria “assegurada” não encontra respaldo na letra do contrato.

Há também o impacto simbólico. O museu recebe cerca de 150 mil visitantes por ano, mesmo incompleto. A comparação com outros espaços consolidados ajuda a entender seu potencial: o River Plate atrai mais de 360 mil pessoas; o Boca Juniors chega a 400 mil; o Museu da FIFA, em Zurique, gira na faixa de 200 mil. Considerando que o Flamengo tem apenas dois anos de operação e funciona com metade da proposta inicial, é razoável estimar crescimento expressivo caso fosse concluído. O museu, além da visitação direta, movimenta receitas indiretas: loja oficial, passes guiados, consumo no entorno e o impacto econômico previsto de R$ 300 milhões anuais quando inaugurado por completo.

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A eventual obra também afetaria a alta temporada turística. Com o contrato tendo efeito retroativo a 1º de novembro, o Flamengo poderia fechar o museu imediatamente após a aprovação. Isso significaria atravessar o período de maior fluxo do ano: festas, férias, chegada de turistas, com as portas fechadas, desperdiçando receita e visibilidade.

Embora a diretoria de patrimônio histórico tenha feito um trabalho elogiado nos últimos anos: o documentário na Flamengo TV, o Muro da Gávea, a linha Diamantes Negros, a escolha por reduzir o museu provoca uma reação proporcional ao valor afetivo e identitário daquele espaço. Acervo histórico não se mede pelo metro quadrado que ocupa, mas pela memória que protege. Peças como a camisa usada por Zico no Mundial de 1981, por exemplo, escapam de qualquer critério financeiro. “Quanto vale para o torcedor?” é uma pergunta que não encontra resposta em planilha.

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O debate caminha para além de disputas internas. Não se trata de oposição, defesa de grupo político ou desgaste de gestão. É uma discussão de patrimônio. É o tipo de tema em que o tempo costuma cobrar decisões, e, quando ele cobra, nenhuma academia substitui o vazio deixado por uma história que deixa de ser contada.

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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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Tulio Rodrigues

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