PVC perde a linha e faz ataques covardes a José Boto | Xenofobia e insinuações sobre corrupção

PVC perde a linha e faz ataques covardes a José Boto | Xenofobia e insinuações sobre corrupção

O comentarista Paulo Vinícius Coelho, voltou a gerar polêmica após a partida entre Flamengo e Palmeiras. Em comentário feito no programa “De Primeira”, do UOL, o jornalista fez uma analogia que acabou extrapolando o campo da análise esportiva: ao criticar o dirigente português José Boto, atual gerente de futebol do Flamengo, PVC mencionou o “Apito Dourado”, escândalo de corrupção da arbitragem portuguesa ocorrido em 2004, e ironizou o sotaque lusitano. A fala, além de imprecisa, trouxe um tom xenofóbico e injusto, abrindo espaço para uma leitura discriminatória contra o profissional e, por extensão, contra portugueses que trabalham no futebol brasileiro.


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PVC avaliou a entrevista do dirigente como “irresponsável” e, na sequência, emendou: “Está achando que é o quê? No Apito Dourado de Portugal?”. O comentário seguiu com a imitação caricata do português europeu, mencionando nomes de dirigentes do Porto e sugerindo que “todos sabem o que se passou lá”. O problema é que, à época do escândalo, José Boto não apenas não estava envolvido como trabalhava no Benfica, clube que não foi citado nas investigações conduzidas pela Justiça portuguesa.

A tentativa de ridicularização ficou evidente quando PVC reproduziu trechos da fala com expressões lusitanas em tom de deboche: “Tu pensas o quê? Que ninguém sabe o que se passou em Portugal?”. A ironia não serviu ao esclarecimento dos fatos, mas à criação de uma caricatura nacional. Para advogados consultados, o episódio não configura apenas uma gafe: o comentário “resvala num estereótipo de dominação e culpa associados à nacionalidade”, nas palavras de um jurista ouvido por Ser Flamengo.

O advogado explicou que, ao associar um dirigente português a um caso criminal ocorrido em seu país e imitar o modo de falar como elemento de ridicularização, PVC reforça preconceitos históricos. É o mesmo que um comentarista usar um sotaque nordestino para zombar de alguém e associar a uma prática ilegal ou desonesta. Quando se mistura ironia com nacionalidade, a crítica profissional se torna um ataque cultural.

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O caso ganhou ainda mais contraste porque, em situações semelhantes, o jornalista adotou postura oposta. Em 2023, quando a CBF acusou o auxiliar de Abel Ferreira, João Martins de xenofobia ao insinuar a existência de um “sistema” que prejudicaria o Palmeiras, PVC tratou as declarações como exageradas, mas compreensíveis. Defendeu que não havia ofensa aos brasileiros e relativizou o tom das falas. Agora, ao comentar a entrevista de um português ligado ao Flamengo, a mesma compreensão desapareceu.

Essa contradição expõe um problema recorrente na cobertura esportiva brasileira: a medida da indignação parece variar conforme o clube ou o personagem envolvido. Quando o alvo é o Flamengo, o rigor se impõe com pressa; quando é o Palmeiras, o discurso ganha matizes, contextualizações e atenuantes. O episódio do pós-jogo escancarou essa diferença de tratamento e recolocou o debate sobre ética e coerência no jornalismo esportivo.

Historicamente, os profissionais portugueses enfrentam resistência no futebol brasileiro. Desde Jorge Jesus, qualquer gesto ou frase mais enfática é lida por parte da imprensa como soberba. Ao evocar o termo “colonizadora”, PVC reavivou justamente esse imaginário, deslocando a discussão sobre a conduta de Boto, que poderia ser questionada tecnicamente, para uma crítica étnico-nacional, um território perigoso e anacrônico.

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No centro de tudo, permanece o jogo Flamengo x Palmeiras, que deveria ser o foco da análise. O duelo, marcado por possíveis erros de arbitragem e decisões controversas, virou pano de fundo para uma discussão que escapa do campo e entra no terreno da intolerância. Em vez de se limitar a debater o futebol, PVC escolheu o atalho da generalização.

O caso do “Apito Dourado”, ocorrido entre 2003 e 2005, envolveu dirigentes do Porto e de outros clubes menores em suspeitas de manipulação de resultados. Nenhum funcionário do Benfica, clube onde Boto trabalhava, foi denunciado. Mesmo assim, o comentarista usou o episódio como referência direta ao dirigente, ignorando o contexto histórico e o cuidado básico da apuração.

A diferença de tom entre o rigor com Boto e a complacência com outros personagens não passou despercebida nas redes. Torcedores e jornalistas apontaram a incoerência e cobraram retratação. A reação expõe um dilema antigo da crônica esportiva: até onde vai a crítica e onde começa o preconceito?

Ao misturar ironia, estereótipo e desinformação, PVC ultrapassou a fronteira do comentário opinativo e invadiu o terreno da ofensa. No momento em que o futebol brasileiro tenta se profissionalizar e abrir espaço para gestores estrangeiros, atitudes como essa reforçam barreiras culturais e revelam um viés que o jornalismo deveria justamente combater, não reproduzir.

O episódio serve como espelho: se o discurso de um técnico é relativizado porque veste verde, e o de um dirigente é condenado porque veste rubro-negro, o problema não está apenas na bola, está na forma como parte da imprensa escolhe narrar o jogo.

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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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Tulio Rodrigues

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