No Campeonato Carioca de 1941, o Flamengo fazia uma boa campanha. No primeiro turno, a equipe rubro-negra foi a líder geral, perdendo apenas um dos dezoito jogos disputados. Nos dois turnos seguintes, o desempenho do Flamengo foi mediano, enquanto o Fluminense subiu de produção. A decisão do campeonato ficou para a última rodada, que seria disputada entre Flamengo e Fluminense. Como o Fluminense tinha uma campanha melhor que a do Flamengo — quarenta e quatro contra quarenta e três pontos —, o empate garantiria o título ao tricolor. Vale ressaltar que Pirilo foi o artilheiro do Campeonato, com trinta e nove gols marcados.
No dia vinte e três de novembro de 1941, Flamengo e Fluminense entraram em campo na Gávea para o tira-teima. O Fluminense havia conquistado os campeonatos de 1936, 1937, 1938 e 1940, enquanto o Flamengo foi campeão em 1939. A decisão de 1941 reunia os dois últimos campeões dos últimos cinco anos.
As escalações foram as seguintes:
Flamengo: Yustrich, Newton e Domingos da Guia; Biguá, Volante e Jaime; Sá, Zizinho, Pirilo, Rubens e Vevé.
Fluminense: Batatais, Norival e Renganeshi; Og Moreira, Spinelli e Afonsinho; Pedro Amorim, Russo, Romeu, Tim e Carreiro.
A Gávea contou naquele dia com quinze mil trezentos e doze torcedores, e o jogo foi apitado por José Lemos Ferreira, o “Juca da Praia”.
Mesmo precisando vencer, o Flamengo deixou que o Fluminense começasse melhor a partida. O Fluminense logo de cara mostrou a que veio, abrindo dois a zero no placar com gols de Pedro Amorim e Russo. Pirilo diminuiu para o Flamengo antes do fim do primeiro tempo.
No segundo tempo, o Flamengo chegou ao empate aos trinta e oito minutos com Pirilo novamente. A partir daí, o jogo ganhou contornos dramáticos. Para o Fluminense, bastava o empate para ser campeão, enquanto o Flamengo só se interessava pela vitória.
Os jogadores do Fluminense usaram uma estratégia curiosa: em todo ataque do Flamengo, chutavam a bola para a Lagoa Rodrigo de Freitas, localizada atrás das gerais da Gávea. Isso se repetiu até o fim da partida. Em determinado momento, quando não havia mais bolas disponíveis, os dirigentes do Flamengo mandaram remadores do clube buscarem as bolas na lagoa para agilizar o reinício do jogo.
Percebendo a cera do time tricolor, Juca da Praia expulsou Carreiro. O Fluminense ganhou mais tempo discutindo com o árbitro. O Fluminense contava com um craque em seu elenco, Romeu Pelliciari, que começou a amarrar o jogo toda vez que recebia a bola, segurando-a e fingindo que ia para frente, o que deixou os jogadores do Flamengo sem saber como agir. Para tentar parar Romeu, os jogadores do Flamengo começaram a cometer faltas. Na cobrança, tocavam para ele, que corria para a bandeirinha de escanteio esperando nova falta. O Flamengo continuava pressionando, mas não conseguia marcar o gol da vitória.
Na época, os jogos eram cronometrados. Quando a bola saía, o juiz parava o cronômetro, o que transformou os minutos finais em uma eternidade. Juca da Praia sofreu com a pressão dos dirigentes dos dois clubes e ainda precisava ser enérgico em relação às jogadas duras. Ele deu doze minutos de prorrogação. O goleiro tricolor, Batatais, acabou se tornando herói ao continuar jogando mesmo após deslocar a clavícula. Após os doze minutos de prorrogação, Juca da Praia levantou os braços, encerrando a partida e trazendo tristeza aos jogadores e à torcida do Flamengo, enquanto os tricolores celebravam o bicampeonato.
Ficha técnica:
Flamengo 2 x 2 Fluminense
Data: 23/11/1941
Estádio: Gávea
Público: 15.312
Árbitro: José Ferreira Lemos, o “Juca da Praia”
Gols: Pedro Amorim e Russo (Flu); Pirilo (2) (Flamengo)
Flamengo: Yustrich, Domingos e Newton; Biguá, Volante e Jaime; Sá, Zizinho, Pirilo, Rubens e Vevé.
Fluminense: Batatais, Renganeshi e Machado; Mallazo, Brant e Afonsinho; Pedro Amorim, Romeu, Russo, Tim e Carreiro.
Cartão Vermelho: Carreiro (Flu).
Observação: Segundo o jornalista e historiador Roberto Assaf, a história de que os jogadores do Fluminense jogavam a bola para a Lagoa Rodrigo de Freitas a todo instante é uma lenda. Ele argumenta que os jornais da época que cobriram o jogo pouco enfatizaram esse fato e afirmaram até que ocorreu apenas uma ou duas vezes durante o jogo. Outra tese que o jornalista defende para desfazer a lenda é que, como mencionado no texto, na época o tempo era cronometrado e o juiz precisava parar o relógio quando a bola estava fora de jogo.
Querendo ou não, o Fla x Flu da decisão do Carioca de 1941 entrou para a história como o Fla x Flu da Lagoa.
Fontes de pesquisa: Flapédia e Súmulas Cariocas
Acompanhe a série:
– Apresentação da série – 100 anos de Fla x Flu
– Pré-jogo do primeiro Fla x Flu do centenário
– Série – 100 anos de Fla x Flu – O primeiro Fla x Flu da história
– Série – 100 anos de Fla x Flu – Flamengo 7 x 0 Fluminense – A maior goleada do clássico
– Série 100 anos de Fla x Flu – Flamengo 0 x 0 Fluminense – O maior público do futebol brasileiro
– Flamengo 1 x 0 Fluminense – Fla x Flu das Diretas
– Flamengo 5 x 0 Fluminense – Despedida de Zico
– Flamengo 4 x 2 Fluminense – Final do Carioca de 1991
– Flamengo 2 x 3 Fluminense – Final do Carioca de 1995
– Flamengo 4 x 3 Fluminense – Taça Guanabara de 2004
– Fluminense 2 x 3 Flamengo – Final da Taça Guanabara de 2004
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