Contrato de Ronaldinho: Prejuízo profundo ao Flamengo

Tulio Rodrigues

Na semana passada, fiquei estarrecido com a reportagem feita pelo UOL Esportes sobre o contrato de Ronaldinho, que sempre foi mantido em sigilo absoluto pelo Flamengo. A reportagem revelou cláusulas que prejudicam gravemente o clube, explicando o motivo de nunca terem mostrado esses documentos. Lembro-me de que, quando entrevistei o candidato à presidência Lysias Itapicurú, ele apresentou um documento solicitando uma cópia do contrato com o jogador, que à época já era atleta do Flamengo. A cópia do contrato, no entanto, nunca foi entregue. Com a revelação do UOL, agora sabemos o porquê.

Um novo contrato foi firmado após a saída da Traffic da parceria com o clube. Neste, o Flamengo assumiu compromissos adicionais que não existiam no acordo anterior. Além dos R$ 750 mil mensais pelos direitos de imagem de Ronaldinho, o clube prometeu pagar um valor extra de R$ 2,5 milhões por ano, divididos em cinco parcelas, além de um “13º salário” em dezembro, que dobraria o valor dos direitos de imagem. Esses adicionais não constavam no contrato anterior. Com essas adições, o Flamengo acabou elevando os custos do contrato em R$ 3 milhões.

A presidente Patrícia Amorim assumiu também toda a dívida da Traffic com Ronaldinho, totalizando R$ 6 milhões — R$ 3,75 milhões em salários e R$ 2,5 milhões que a Traffic deveria ter pago em 2011. Somando todos os valores, o montante que Ronaldinho receberia até o início de 2015 seria de R$ 43,75 milhões, fora os R$ 250 mil mensais adicionais. Ao todo, Patrícia comprometeu o Flamengo a pagar cerca de R$ 50 milhões em três anos.

Outra cláusula chama atenção: uma multa de R$ 5 milhões por atrasos em pagamentos ou por perdas e danos, valor que não existia no contrato com a Traffic. Nesse acordo anterior, a multa por descumprimento era de R$ 3 milhões.

As desvantagens para o Flamengo no novo contrato vão além das questões financeiras. Apesar de ter o direito de explorar a imagem de Ronaldinho, o Flamengo teria que pagar um cachê adicional ao jogador para participar de eventos de patrocinadores e dependeria da autorização dele para definir valores. Assim, mesmo pagando quase R$ 1 milhão por mês pelos direitos de imagem, o Flamengo ainda precisava de consentimento de Ronaldinho, que poderia se recusar a comparecer em eventos.

A desorganização da gestão atual, porém, não parou por aí. O Flamengo concordou em pagar a Ronaldinho comissões muito acima das práticas de mercado. A diretoria concedeu ao jogador 20% de comissão sobre os contratos de patrocínio vinculados à sua imagem, enquanto o padrão de mercado costuma variar entre 5% e 15%, sendo o patrocinador geralmente o responsável por esses valores. Isso, mesmo com o Flamengo já pagando seus direitos de imagem.

Além disso, foram oferecidos benefícios excessivos à Traffic na exploração do programa de sócio-torcedor, algo incomum no mercado. Pelo acordo, a Traffic ficaria com 20% do valor bruto e mais 20% do valor líquido das receitas até 2014. Esse percentual só cairia para 15% após a saída de Ronaldinho. A Traffic ainda teria o direito de explorar o programa por cinco anos após o término do contrato de Ronaldinho, que acabaria em 2014, estendendo essa exploração até 2019.

Embora esses contratos tenham sido desfeitos, Ronaldinho ainda pode receber na Justiça cerca de R$ 40 milhões do Flamengo. Ninguém da diretoria se manifestou sobre os detalhes divulgados do contrato. Isso me leva a questionar: por que um contrato tão oneroso não foi submetido ao conselho? Por que foi mantido em sigilo no clube? Quem, além de Ronaldinho, se beneficiava dessas cláusulas? Como uma presidente que alega amar o clube assina um contrato com tantas cláusulas prejudiciais? Seria realmente essa pessoa a presidente ideal para mais três anos?

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