Presidente gremista se cala sobre fraudes da Libra, mas ataca Bap para defender advogado palmeirense

Presidente gremista se cala sobre fraudes da Libra, mas ataca Bap para defender advogado palmeirense

O conflito entre Flamengo e Libra voltou a escalar nesta semana após declarações do presidente do Grêmio, Alberto Guerra, em entrevista ao jornalista Danilo Lavieri, do UOL. O dirigente gremista chamou o clube carioca de “egoísta” por recorrer à Justiça para bloquear parte dos valores do contrato de direitos de transmissão com a Rede Globo, decisão que mantém congelados cerca de R$ 77 milhões. A fala reacendeu a tensão entre os clubes e expôs, mais uma vez, o desalinhamento interno da Libra, grupo que tenta unificar os times em torno da futura liga de clubes do futebol brasileiro.


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O caso remonta à liminar concedida ao Flamengo há cerca de três semanas, que impede a distribuição integral da parcela de audiência paga pela Globo. O clube carioca sustenta que a Libra descumpriu o próprio estatuto e a legislação ao alterar pautas e atas de reuniões sem transparência, além de omitir trechos de documentos oficiais. Segundo o Flamengo, essas irregularidades comprometem a legalidade da divisão das receitas e configuram vício no processo deliberativo.

A Libra, por outro lado, tenta minimizar o impacto do impasse, mas os efeitos práticos são evidentes. Clubes com menor poder financeiro, como Bahia, Vitória e Santos, relataram dificuldades para manter o fluxo de caixa e, em alguns casos, atrasos salariais. O próprio Guerra admitiu que o Grêmio teve de lidar com pendências internas após o bloqueio judicial. Ainda assim, o discurso do presidente foi de confronto. “A atitude do Flamengo é egoísta e prejudica quem depende desse dinheiro para manter as contas em dia”, afirmou.

No centro da disputa, há um problema estrutural que atravessa toda a discussão: o estatuto da Libra define apenas premissas gerais para o rateio de receitas, mas não apresenta a fórmula final de distribuição. Essa lacuna jurídica, apontada pelo Flamengo como base de sua ação, abre margem para interpretações divergentes e para o desequilíbrio de forças dentro do bloco. A situação se agravou quando, em reuniões anteriores, clubes como Palmeiras e São Paulo deixaram a mesa de negociação ao perceberem que o Rubro-Negro defendia critérios de divisão mais meritocráticos, vinculados à audiência.

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A tensão, contudo, vai além dos números. Há uma disputa simbólica pelo protagonismo político da liga. O presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, afirmou em entrevistas recentes que a Libra se tornou “um grupo verde”, em alusão à influência do Palmeiras e do advogado André Sica, que, além de representar o clube paulista, atua como assessor jurídico da própria Libra. A coincidência de interesses despertou questionamentos sobre conflitos éticos e de governança.

Desde então, cada passo tem sido uma reação à escalada do conflito. Quando o Flamengo apresentou documentos apontando possíveis irregularidades nas atas da Libra, não houve contestação formal do grupo. Pouco depois, o clube notificou extrajudicialmente a associação para evitar a aprovação de medidas sem quórum e sem respaldo estatutário. O aviso foi ignorado, o que levou à judicialização. A liminar, assinada por uma desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, mantém o bloqueio dos valores.

Alberto Guerra, ao se colocar como porta-voz da Libra, tentou desqualificar a ação do Flamengo como uma manobra política. “Talvez o Bap esteja apenas respondendo ao seu eleitorado, tentando mostrar que o contrato anterior foi mal negociado”, disse o dirigente.

A narrativa construída contra o Flamengo também preocupa pelo potencial de desgaste institucional. Ao ser rotulado de “egoísta”, o clube teme que sua imagem sofra no mercado, justamente no momento em que busca novos patrocinadores e projeta parcerias estratégicas.

Enquanto isso, a Libra tenta preservar a aparência de unidade. Guerra afirmou que o grupo “é muito unido” e que “todos querem o melhor para o futebol brasileiro”. A declaração, no entanto, contrastou com a realidade de bastidores: as reuniões têm sido marcadas por desconfiança e divergências sobre a divisão de receitas e o peso de cada clube nas votações.

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Mesmo com a disputa judicial em curso, o Flamengo continua cumprindo o contrato de direitos de transmissão. A liminar não suspende a exibição de jogos nem altera obrigações com a Globo, apenas impede a distribuição da cota de audiência até que as pendências jurídicas sejam esclarecidas. Ainda assim, adversários tentam usar o episódio como prova de que o clube age de maneira isolada, sem cumprir o contrato já assinado.

Ao fim da entrevista, Guerra defendeu que a prioridade deve ser “formar a liga o quanto antes”. O discurso soa contraditório diante da própria postura do grupo, que há meses evita discutir pontos essenciais como calendário, fair play financeiro, arbitragem e gestão. “A gente precisa primeiro da liga para depois discutir esses temas”, disse o presidente do Grêmio, revelando, sem perceber, a inversão lógica que tem travado o avanço do projeto.

O caso expõe mais do que uma divergência entre Flamengo e Libra: revela a incapacidade coletiva dos clubes brasileiros de dialogar sem que o poder e o dinheiro ocupem o centro da mesa. Enquanto isso, a promessa de uma liga profissional, vendida como o passo decisivo rumo à modernização do futebol nacional, continua distante, soterrada por disputas de ego e desconfiança mútua.

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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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Tulio Rodrigues

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