Ronaldinho: de ídolo a um estorvo na Gávea

Ronaldinho: de ídolo a um estorvo na Gávea

Ronaldinho chegou à Gávea com toda a pompa de ídolo, em uma apresentação digna de astro, com vinte mil rubro-negros o saudando e salários e multas rescisórias astronômicas. Além disso, havia as promessas de ações de marketing feitas pelo Flamengo e pela parceira na negociação, a Traffic. A ideia era arrecadar tanto dentro quanto fora de campo.

O tempo passou e a carruagem virou abóbora! Noitadas, falta de comprometimento nos treinos, omissão nos jogos e regalias marcaram a rotina de Ronaldinho no Flamengo. Ele fez o que quis no clube e nunca foi punido. Contudo, ele não errou sozinho.

A diretoria não pagava seus salários e foi conivente com seus deslizes. A falta de pulso firme por parte do Flamengo permitiu que Ronaldinho agisse como bem entendesse. Claro que, na cabeça do jogador, o fato de não receber dava-lhe esse direito, mas isso não justifica atitudes como o barraco protagonizado por seu irmão na Flaconcept, por exemplo. Quando a parceria com a Traffic se tornou insustentável, o Flamengo deveria ter buscado alternativas para arcar com o salário padrão europeu do dentuço.

O dinheiro que o Flamengo esperava arrecadar com o marketing de Ronaldinho nunca veio, porque tanto o Flamengo quanto a Traffic foram incompetentes. Diferente do Fenômeno, Ronaldinho não tem o mesmo carisma, e o sucesso de sua imagem está atrelado ao que ele faz em campo. Ele, por si só, não é capaz de atrair patrocínios sem um trabalho bem planejado e estruturado de marketing. Como Ronaldinho não correspondeu às expectativas em campo e o nosso marketing é fraco, o resultado foi um fiasco em tudo relacionado à imagem do camisa 10. Apenas em setembro do ano passado, oito meses após sua contratação, surgiram produtos licenciados com sua imagem, e algumas semanas antes de sua saída da Gávea, a situação já era crítica.

Havia uma forte corrente que não queria mais Ronaldinho no Flamengo. O custo-benefício de R10 não existiu, e o clube não tinha condições, naquele momento, de arcar com o salário do “astro”. Patrícia Amorim começou a sinalizar a possibilidade de se desfazer dele, principalmente após os recentes episódios envolvendo o próprio jogador e seu empresário e irmão. O problema era encontrar alguém disposto a pagar caro pelo “abacaxi” em que Ronaldinho se transformou.

Não sei o que passa pela cabeça de Ronaldinho, nem sei se sua permanência seria positiva para o Flamengo. Se ele quisesse jogar, ajudaria e teria espaço em qualquer time do mundo. Talvez falte a Ronaldinho o que sobra em Ibson e Vagner Love: o amor, a satisfação e a vontade de jogar pelo Flamengo. Ronaldinho já conquistou tudo no futebol e é milionário, mas jogar e ser ídolo no Flamengo deveria ser um estímulo sem preço! Se imortalizar na história do Flamengo não é para qualquer um.

Romário é um exemplo que eu pude presenciar. Embora tenha faltado um título de grande expressão ao baixinho com a camisa rubro-negra, não faltaram satisfação, gols e orgulho em suas passagens pela Gávea. E olha que Romário também era polêmico e tinha suas regalias no Flamengo, mas nos compensava em campo. Ronaldinho não fez nem cinco por cento do que Romário fez.

Ontem, um torcedor “bem-intencionado” postou no YouTube um vídeo em que Paulo César Coutinho afirmava que Ronaldinho estava afastado do Flamengo. Esse vídeo, ao que tudo indica, foi a gota d’água para Ronaldinho acionar a Justiça.

Deixo claro que Ronaldinho não é o único culpado pela crise do nosso futebol. Embora tenha sua grande parcela de responsabilidade, ele não é o único responsável, nem mesmo por sua saída. Ronaldinho não é vítima, assim como a diretoria do Flamengo também não é. Ao ler a coluna do Lúcio de Castro na ESPN, fiquei horrorizado com a omissão da diretoria diante de tanta indisciplina de Ronaldinho. Aqui um trecho da coluna:

“Esticando a corda para ver se ele pedia para sair, em vez de tentar negociar, deram duas advertências ao craque nos últimos dias. Uma delas, com direito a exame de sangue para verificar a quantidade de álcool. Diante do resultado do exame, era possível pedir a justa causa. Tinham uma bela oportunidade para resolver o problema (lembrem-se de Renato Silva e o Fluminense, quando a justiça aceitou a justa causa). Preferiram o de sempre: o jogo nas sombras, da covardia, calúnias, bravatas, vazar a notícia, denegrir. Mandar os outros fazer, esticar a corda e ficar na penumbra. É a marca maior dessa administração, por que seria diferente agora?”

A diretoria poderia ter resolvido o problema sem custos para o clube. Esses R$ 40 milhões, com juros e tudo, serão multiplicados ao longo dos anos. Podem esperar! E quem vai pagar essa conta? Como bem disse Benjamin Back em sua coluna no Lance: “Da porta para fora, o Flamengo é gigante; porém, da porta para dentro é pequeno demais!” Talvez o problema esteja aí.

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Tulio Rodrigues