Sócio torcedor, é possível o Flamengo ter um

Ultimamente, muito se tem falado sobre a importância de ser sócio do Flamengo. Aqui mesmo no blog, já tratamos do assunto diversas vezes. Primeiro, com o belíssimo texto de Rondi Ramone na série “A política na Gávea” (A importância de sermos sócios do Flamengo). Em seguida, com a manifestação “Associe-se para mudar” e, por fim, com o meu texto sobre os detalhes dessa manifestação (“Associe-se para mudar” – A semente foi plantada). No entanto, o que mais tem gerado destaque nos debates é o tão sonhado projeto de sócio-torcedor.

Tenho lido sobre o assunto em diversos blogs e não consigo ver nenhum malefício, nem para o Clube nem para o torcedor. Alguns são amplamente a favor do projeto, enquanto outros, embora não se posicionem contra, são extremamente pessimistas, destilando críticas até à modalidade Off-Rio, que, bem ou mal, aproxima o torcedor de outros estados e lhe dá a oportunidade de participar mais ativamente do Clube.

Alguns clubes que já adotaram o sócio-torcedor mostram que nem é necessário ter um estádio próprio. Digo isso porque esse argumento já foi utilizado para justificar a não implementação do projeto. Outro argumento contrário é o Estatuto. Para implementar um sócio-torcedor com direito a voto, seria necessário alterá-lo. Mas falam do Estatuto como se ele não pudesse ser modificado. A Constituição do Brasil já passou por reformas para se adaptar às necessidades da sociedade. Por que o Estatuto do Flamengo não pode ser reformado para atender tanto à torcida quanto ao Clube?

Dizer também que os sócios proprietários não aceitariam ter os mesmos “direitos” que um sócio que paga dez vezes menos, por exemplo, não convence. Cada modalidade tem seus benefícios; quanto mais se paga, maiores são os privilégios e vantagens. Isso é amplamente visto no modelo atual do Clube, onde quem paga cem reais não tem os mesmos direitos de quem paga oitocentos.

O Flamengo não precisa copiar o modelo de ninguém! Pode, sim, aproveitar o que há de benéfico em outros clubes e discutir internamente o que melhor se adapta em termos de vantagens, exclusividades, prioridade na compra de ingressos ou descontos, mas claro, dando o direito a voto em todas as modalidades. O Inter-RS, por exemplo, tem um dos modelos de sócio-torcedor mais bem-sucedidos do Brasil, mas a eleição para presidente é indireta, como ocorre no Vasco. Essa já é uma questão estatutária, não do sócio-torcedor. Existem clubes no Brasil com programas de sócio-torcedor que não dão direito a voto. Isso é uma decisão de cada clube, e o Flamengo pode criar o seu próprio modelo!

Analisando os benefícios financeiros, os números impressionam. Vamos pelo mínimo: R$ 50 multiplicados por 20 mil sócios. O resultado já é significativo. Não tenho dúvidas de que, com um programa de sócio-torcedor bem estruturado, o Flamengo poderia alcançar facilmente cem mil sócios pagantes. Esse dinheiro poderia ser investido onde a diretoria julgasse necessário: reformas, construção de um estádio, pagamento de salários… Poderia até permitir ao clube a liberdade de não depender de patrocínios na camisa. O sócio não gasta apenas com a mensalidade; ele compra ingressos, camisas oficiais, produtos licenciados… Ele se torna um cliente fiel, algo que nenhuma empresa consegue, por mais atrativas que sejam suas promoções. Afinal, aqui estamos lidando também com o amor ao clube! Se houver alguma vantagem (descontos, promoções…), melhor ainda! Cada torcedor é um consumidor em potencial, e o Flamengo ainda não explora isso de forma eficiente.

Claro que tudo isso não acontece da noite para o dia. Esse projeto exige planejamento e tempo, tanto para o Clube quanto para o sócio-torcedor. O sócio tem três anos de carência para poder votar e, dependendo da modalidade, participar do Conselho. Até mesmo para haver renovação política no Clube, o processo demanda tempo, mas quanto antes for implementado, melhor!

Aumentar o colégio eleitoral não é prejudicial! Lembro-me de ver, antes da última eleição, militantes de diversos candidatos panfletando no Maracanã. Quantos sócios votantes estavam ali? Isso, sim, é dinheiro jogado fora, já que a maioria dos panfletos era descartada no chão, contribuindo apenas para sujar a cidade. É possível fazer uma campanha mais direcionada aos sócios, deixando que a mídia alcance os não sócios. Sou a favor de o Clube investir em campanhas para angariar novos sócios. Aí, sim, todos os torcedores entram no processo. Ações podem ser feitas nos estádios, tanto no Rio quanto Off-Rio, em dias de jogos.

Uma das grandes vantagens da manifestação “Associe-se para mudar” é que, além de promover o debate sobre a implantação do sócio-torcedor, ela também incentiva os torcedores a se associarem nas modalidades já existentes. Só lembrando: para votar na eleição de 2015, é obrigatório se associar até 31 de agosto deste ano.

Vejo a necessidade de continuar discutindo o assunto até que todos estejam suficientemente esclarecidos, visando o bem do Clube e da torcida. Se o Flamengo adotar um sócio-torcedor com direito a voto e um valor acessível, aí, sim, estaremos exercendo uma verdadeira democracia, por mais democrático que o Clube já seja hoje. Podem dizer que tudo isso é utopia, mas com boa vontade e seriedade, é perfeitamente possível!

SRN

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2 thoughts on “Sócio torcedor, é possível o Flamengo ter um

  1. PRIMEIRO LANTERNA DO FUTEBOL PROFISSIONAL DO RIO
    Em 1933, seis clubes resolveram, finalmente, aderir ao profissionalismo: Fluminense, Vasco, América, Bangu, Bonsucesso e o Flamengo, que se juntou a eles na última hora. Os outros continuaram na entidade amadora. O campeonato dos profissionais foi então um marco na história do futebol, não só carioca como brasileiro. Sendo o profissionalismo um avanço irreversível, o campeão desta primeira competição guardaria para sempre o feito de ser o “primeiro campeão do futebol profissional do Rio de Janeiro”. O campeonato foi por pontos corridos, todos jogando contra todos em dois turnos, e o campeão seria o que somasse o maior número de pontos no total das duas fases. Ao final das 10 rodadas, o Bangu sagrou-se o grande campeão, com uma excelente campanha, digna do título. E no extremo oposto da tabela, quem estava? O Flamengo! Com uma campanha vergonhosa, digna das tradições que o timinho já cunhava naquela época, conseguiu perder 7 das 10 partidas que disputou e fechou sua participação segurando a lanterna. E um fato irônico dessa lanterna histórica foi que a última partida do campeonato ocorreu no dia do aniversário do Urubu, 15 de novembro. O Bangu, já campeão antecipado, goleou o América, que estava na vice-lanterna. Mas nem com essa ajudinha o Flamengo conseguiu se livrar da humilhação, pois já tinha encerrado sua participação, 10 dias antes, num empate com o Bonsucesso, que tinha lhe rendido a lanterna antecipada. E foi assim que o Flamengo conseguiu a incrível façanha de ser o “primeiro lanterna do futebol profissional do Rio de Janeiro”, disputando a primeira divisão do ano seguinte como convidado.

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