Este post sobre a importância de ser sócio do Flamengo, escrito por Rondi Ramone, foi originalmente publicado no DNA Rubro-Negro. Como o tema está diretamente ligado à série “A Política na Gávea”, pedi ao Rondi para que publicássemos o texto aqui também. Vale muito a pena ler e debater.
O tema é delicado e se chama “Mudar o Flamengo de verdade, tendo poder político, e para isso, se associando ao clube”. Ah, meu amigo, quer mais tensão do que isso?
Poderia começar citando as recentes trocas de farpas entre o atual e o antigo presidente, dizendo que não precisamos escolher entre um ou outro modelo; que podemos construir algo alternativo, livre desse currículo político que permeia o Flamengo desde sempre. Ou apelar para nossas tradições, lembrando que o Flamengo não nasceu como um clube de elite, mas foi abraçado e tomado pelo povo. Sempre enfrentamos dificuldades estruturais, mas superamos tudo com a força da coletividade. Nossa embarcação já afundou, nosso futebol treinava na praça aos olhos da torcida, e nossa sede era aberta para festas que não correspondiam aos valores burgueses da época. Até parece que ouço um disco de Stewart Home, onde ele exagera ao cantar que devemos esmagar a individualidade. Pensar coletivamente é a chave da alegria aqui, e a Nação já lida bem com a coexistência entre a coletividade e as liberdades individuais.
Poderia ainda lembrar as raízes democráticas do Flamengo, como na final da Taça Guanabara de 1984 – o famoso Fla-Flu das Diretas – quando o Mengão entrou em campo não só para conquistar um título, mas para alinhar-se aos anseios de abertura política, “tancredando” e tirando sarro do presidente do regime civil-militar, o tricolor João Baptista Figueiredo. O nosso Figueiredo, o zagueiro, era melhor que o deles. Resultado: vitória do Mengo, 1×0, gol de Adílio.
Quem sabe começar dizendo que é imperativo parar de pensar de forma paternalista e acomodada? Não podemos mais esperar que o clube, com sua longa tradição de dificultar a participação da Nação, nos ofereça benefícios, brindes ou presentinhos que acalmem a torcida.
É difícil escrever sobre o que conversamos naquele Livecast (eu, Ique Muniz, Tozza, Burity e Biruleibe), onde decidi tornar essa questão uma prioridade pessoal. Um papo que sempre mantenho com meu amigo Bruno Romero, da Embaixada Rubro-Negra de Governador Valadares, Minas Gerais.
Então vamos direto ao ponto: você está cansado de ver o Flamengo desperdiçar seu imenso potencial? De lamentar como um clube com a maior torcida do país ainda arrecada tão pouco, gasta tão mal, e é governado por uma classe política que não se renova e não se conecta adequadamente com a Nação? Se a sua cabeça está balançando afirmativamente, você já sabe a resposta: torne-se sócio do Flamengo.
O Flamengo é um clube peculiar: a maior parte da sua torcida (cerca de 80%) está fora da cidade de origem. Mesmo assim, o destino do clube é decidido por pequenos grupos políticos, formados por poucas pessoas que se revezam no poder.
Que fique claro: não estou aqui julgando nenhuma diretoria, muito menos a legitimidade dos processos de administração do clube. Pelo contrário, o Flamengo é um exemplo de democracia para seus pares, por mais incrível que isso possa parecer! No Flamengo, as eleições são diretas. Não há um colegiado que decide quem será o presidente. Quem decide são os sócios.
Este texto tem um único objetivo: convencer o maior número possível de irmãos e irmãs rubro-negros sobre a importância de se associar. Ser sócio é tão importante quanto decidir os rumos da sua cidade. Não estou defendendo nenhum grupo específico, mas a ideia de que ser sócio é um ato de cidadania.
Eleger um presidente não é só questão de afinidade pessoal, mas de optar por um caminho estratégico, um projeto de gestão, estabelecendo prioridades e não repetindo erros. É um processo político que exige envolvimento, participação e consciência.
Como o assunto é polêmico, questionamentos sempre surgem. Tanto as defesas quanto as críticas à ideia de ser sócio do Flamengo geralmente seguem os mesmos argumentos. Vou tentar responder algumas das perguntas mais comuns. Hoje, vou focar no sócio Off-Rio, mas haverá outros artigos sobre o tema.
O Off-Rio é uma modalidade de sócio contribuinte, em que o torcedor que mora fora do Rio pode se associar pagando R$ 40,00 por mês, podendo usufruir do clube por 30 dias por ano e votar nas eleições após três anos de contribuição. Para esclarecer: eu sou sócio Off-Rio. Vamos aos questionamentos:
“Ser sócio é caro, nem todo mundo pode pagar. Deveria ser mais barato.”
É verdade que muitas pessoas enfrentam dificuldades financeiras. No entanto, a composição da torcida do Flamengo reflete uma diversidade econômica. Uma pesquisa do Ibope, de 2003, mostrou que 16% da nossa torcida tem renda familiar superior a 10 salários mínimos, e 19% vive com até um salário mínimo. Isso não significa que só quem tem dinheiro deve participar. Acredito que todos os rubro-negros merecem participar do Flamengo, não apenas torcer. Mas isso só será possível com uma cultura democrática mais forte no clube, ampliando o número de sócios e suas influências.
“Eu era sócio, mas aumentaram o valor.”
Verdade. O sócio Off-Rio pagava R$ 15 até 2009, quando a diretoria injustamente aumentou para os atuais R$ 40. Eu também deixei de ser sócio naquela época, mas voltei. Por quê? Porque é isso ou nada. Ou nos filiamos em massa, criamos impacto político e garantimos nossos direitos, ou ficamos reclamando de fora, sem poder.
“Que benefícios eu teria?”
Essa pergunta muitas vezes é feita esperando que a resposta seja sobre produtos ou descontos. Embora isso seja importante, o caráter de cidadania que ser sócio do Flamengo proporciona é o que mais importa. O que vale é poder decidir o futuro do clube.
“Não quero dar dinheiro para quem está lá.”
Na verdade, você já está. Só por ser rubro-negro, você contribui com a grandeza do clube, o que impacta patrocínios e direitos de transmissão. Ao ser sócio, essa contribuição se transforma em poder de decisão.
“Como vou votar se não posso ir ao Rio?”
Há muitas formas de participar e organizar-se. Com a tecnologia, não há desculpa. Além disso, devemos lutar por uma estrutura que permita a votação fora do Rio. Afinal, somos uma Nação sem fronteiras.
“Não é melhor ser apenas sócio-torcedor?”
O sócio-torcedor é importante, mas trata-se de um produto específico, relacionado a ingressos e jogos. O que proponho aqui é ser sócio do Clube de Regatas do Flamengo, com o direito de influenciar diretamente o futuro do clube.
“Não seria mais fácil pressionar externamente para mudar o clube por dentro?”
A pressão externa é importante, mas não pode ser o único caminho. Precisamos combinar essa pressão com conquistas institucionais, assegurando mudanças duradouras.
Por fim, reforço: em recente matéria, foi revelado que Patrícia Amorim se elegeu com 792 votos de um total de 2.400 possíveis. Diferença de apenas 93 votos. Isso mostra como é possível influenciar os rumos do Flamengo.
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Rondi Ramone (@rondiramone)
Acompanhe a série “A Política na Gávea”:
– Os pormenores da gestão de Patrícia Amorim
– Situação da sede da Gávea e esportes olímpicos
– A saúde financeira do Clube
– Eleição para presidente
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