Antes de falarmos sobre o jogo, vale lembrar um pouco do movimento conhecido como Fla-Diretas, que batizou esse Fla-Flu como “Fla-Flu das Diretas”. Esse movimento uniu o clube à luta nacional pelas Diretas Já nos últimos dias do regime militar e foi idealizado pelo economista Sérgio Besserman (irmão de Bussunda), Bussunda e Cláudio Manoel (do Casseta e Planeta). Com o então zagueiro Figueiredo como padrinho e o apoio dos cartunistas de Henfil, o movimento ganhou força, atraindo muitos torcedores para o Maracanã. Diferente da Democracia Corintiana, a Fla-Diretas era um movimento externo, focado nas eleições diretas para presidente da República.
Na época, o presidente do Brasil, João Baptista Figueiredo, manifestava simpatia pelo Fluminense e chegou a receber a faixa de campeão estadual de 1983 do clube carioca no Palácio do Planalto. Com o enfraquecimento do regime militar, a população, junto a artistas e personalidades, foi às ruas pedindo eleições diretas no Brasil. Às vésperas da decisão da Taça Guanabara de 1984 entre Flamengo e Fluminense, uma torcida tricolor declarou apoio a Maluf. Em resposta, o jornal *Folha de São Paulo* publicou: “Figueiredo do Fla é pelas diretas. O do Flu não”. Enquanto o presidente Figueiredo se recuperava de um infarto, seu preparador físico, Nazareno Tavares Barbosa, articulava o apoio a Maluf no meio esportivo. Na Gávea, nasceu a Fla-Tancredo. Um dia antes do jogo, os candidatos arriscaram palpites: Maluf previu 2×1 para o Fluminense, e Tancredo, 3×1 para o Flamengo. Nenhum acertou!
O Jogo
O Maracanã estava repleto de faixas contra Maluf e em apoio a Tancredo Neves, candidato das Diretas e da Aliança Democrática. O Flamengo, que havia perdido jogadores importantes como Zico e Júnior para o futebol italiano, contava com Andrade, Bebeto e o recém-contratado goleiro argentino Ubaldo Fillol, estreando pelo clube. Pelo Fluminense, estreava o paraguaio Romerito, futuro ídolo tricolor, além da famosa dupla Washington e Assis.
Desde o início, o Flamengo pressionava o Fluminense. Aos dois minutos, Nunes quase marcou de cabeça após cobrança de escanteio, mas Paulo Vítor fez grande defesa. Aos 20 minutos, o zagueiro Duílio, do Fluminense, pegou a bola com a mão ao pensar que o árbitro havia marcado falta, e José Roberto Wright assinalou a infração. Tita cobrou a falta, cruzando para a cabeça de Adílio, que marcou o primeiro gol para o Flamengo. Minutos depois, Mozer quase ampliou em nova cobrança de falta, mas Paulo Vítor salvou o tricolor novamente.
No intervalo, as torcidas protagonizaram novas manifestações políticas. A do Flamengo ergueu a faixa: “Maluf não, Tancredo é a solução”. A do Fluminense rebateu com: “O Fla não malufou”. A Falange Rubro-Negra distribuiu fitas amarelas, símbolo das Diretas Já.
No segundo tempo, o Fluminense tentou reagir. Em um cruzamento na área, Assis não marcou por um triz, e Romerito também assustou em um chute que passou perto. O Flamengo respondeu com uma bela jogada, mas Mozer não marcou porque Paulo Vítor estava em ótima fase e salvou o Fluminense de novo. Em outra cobrança de falta, Mozer acertou a trave, assim como Adílio em uma chance seguinte. Era ataque rubro-negro de um lado e defesas de Paulo Vítor do outro. Aos 45 minutos e 20 segundos, o árbitro encerrou o jogo. O Flamengo era campeão da Taça Guanabara, o único título do clube naquele ano. Os jogadores do Fluminense deixaram o campo sob os gritos de “ão, ão, ão, Maluf é corrupção” de sua própria torcida.
Na política, Tancredo derrotou Maluf na eleição de 1985, mas faleceu antes de assumir, passando o mandato a José Sarney.
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FICHA TÉCNICA
Flamengo 1 x 0 Fluminense
Data: 23 de setembro de 1984
Local: Maracanã
Público: 99.898 pagantes
Árbitro: José Roberto Wright
Gol: Adílio (20′)
Flamengo: Fillol, Jorginho, Leandro, Mozer e Adalberto; Andrade, Élder e Tita; Bebeto, Nunes e Adílio.
Técnico: Zagalo.
Fluminense: Paulo Vítor, Aldo, Duílio, Ricardo e Branco; Jandir, Delei e Assis; Romerito, Washington e Tato.
Técnico: Luís Henrique.
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Fonte de pesquisa: FlaMuseu, Fla-Flu 100 Anos, e o livro Meu Maior Prazer, de Carlos Eduardo Mansur e Luciano Cordeiro Ribeiro.
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Falta a fonte de que o Figueiredo recebeu a faixa de campeão de 83.
“alguma torcida” declarou apoio a Maluf. Pelo que sei foram jogadores, como o Paulo Victor que declaram apoio ao Maluf com a promessa de que o mesmo investiria no futebol amador. Falta esclarecer isso.
Faltou dizer que que a Garra era também contra Maluf e apoiava Tancredo.
A Faixa “o Fla não malufa” está atribuída a torcida do Flamengo como mostra a imagem facilmente achada na internet, inclusive com uma faixa da Charanga abaixo.